dezembro 10, 2006

Eles são meninos. Meninos mesmo. Universitários recentes, alguns nem chegaram nos 20. Teve um que me abraçou e – juro!!! – senti cheirinho de creme dental, igual como sentia quando abraçava meus filhos há alguns anos.

Parênteses: acho que meus filhos ainda levam o cheiro de pasta de dente, mas a gente não se abraça e nem se vê mais com tanta freqüência. O tempo passa... Fecha parênteses.

Eles são meninos, mas são muito, muito sérios. De longe, observando as brincadeiras e os risos, parecem meninos como os outros. Fico pensando se nessas horas eles estão falando das meninas, fazendo aqueles comentários impróprios tão comuns aos meninos da idade deles. Tenho minhas dúvidas.

Eles são meninos, mas já realizam projetos, transformam idéias em realidade, falam em transformar o mundo e projetam um futuro em que “movimento estudantil” não vai corresponder a um bando de rebeldes sem causa. A primeira vez que ouvi essa frase fiquei chocada e pensei no movimento estudantil que vivi e presenciei nos longínquos anos 60. Nada a ver. A referência deles é outra – e, realmente, é a dos rebeldes sem causa. E, nos anos 60, eles não eram nem projeto dos que pregavam revolução.

Eles são competitivos, mas pensam no futuro de olho na igualdade social e no que eles podem fazer agora para ajudar os outros. Não querem dar o peixe, querem ensinar a pescar. Citam Kennedy e Roosevelt com a maior desenvoltura. Têm plena consciência do que representam e da minoria que são.

Minha filha diz que são os meus pupilos. Eles me ensinam coisas, me entusiasmam, me dão injeção de ânimo, me mostram que existe luz no fim do túnel. Se a grande maioria dos jovens, hoje, está perdida, sem trabalho e sem futuro, esses são a exceção que certamente fará a diferença.

Quem viver, verá...

novembro 08, 2006

Ainda o esquecimento. Do ônibus, vi um velhinho japonês que me lembrou no ato do velho Kato-san. Acho que ele nem era tão velhinho, mas como eu era muito menina, a impressão que ele me dava é de um ser centenário. O velho Kato-san era meio que um padrinho do meu pai – foi padrinho do casamento dele, nas duas cerimônia, a japonesa em 1944 e a brasileira, em 1964 -, uma espécie de mentor. Quando batia uma dúvida na cabeça do seu Jorge, era o Kato-san que esclarecia, o que dá a medida do respeito do velho Jorge pelo velho Kato.

A última vez que vi Kato-san já estava casada e com filhos (não sei se todos). Estava muito, muito velhinho. A cabeça toda branca, os cabelos na altura do ombro, pequenino e magrinho (com certeza ele não passava de 1m50 – e a mulher dele era menor ainda!). Usava uma boina que lembrava as usadas pelos bascos, meio de lado, parecia um bonequinho. Continuava ativo, falante e risonho. Depois, nunca mais tive notícia.

Mas o velhinho que vi do ônibus me lembrava o Kato-san da minha infância, quando ainda comandava a tinturaria ABC numa casa imensa na Domingos de Moraes, mais ou menos onde está hoje a estação Ana Rosa do metrô. Tinha uma penca de filhos, seis ou sete ou mais, e todos ajudavam lavando, passando, entregando roupas. Não lembro de todos. Nomes, só de uma, a Marli, que estudou com a Juju. Teve outra, minha contemporânea no Roosevelt, cujo nome devo ter feito questão de esquecer – não gostava dela e ficou pior quando ela foi dizer para o meu pai que eu não era bem vista na escola por andar só com os gaijin e viver metida no grêmio. E tinha aquela - Tieko? -, mais velha e muito legal com as crianças.

Mas conto tudo isso porque me assaltou uma dúvida em relação aos meus esquecimentos. Dizem que quando a caduquice ataca, a memória recente some. Em compensação, a memória antiga fica cada vez mais forte. Minha dúvida é a seguinte: quando a memória recente vira antiga? Uma semana? Um mês? Hoje não lembro o que fiz ontem - daqui uma semana vou lembrar?

Alguém conhece algum bom memoriol?

novembro 07, 2006

Décadas sem escrever. Tempo não faltou, faltou vontade e coragem. Mil coisas passaram pela cabeça, mas, na hora H, tudo sumiu. E continuam sumindo. Consigo lembrar antes. Nunca na hora e sempre depois. E aí, as multas já estão correndo...

Será que é a idade? Procuro lembrar de como foi com minha mãe. Primeiro foi o derrame, depois veio o esquecimento. Não de tudo, mas de algumas coisas. No meio disso tudo, teve a perda de movimentos, da coordenação motora. Desde muito mocinha que observo muitas coincidências entre o que acontece comigo e o que aconteceu com ela. Mas espero não dar repeteco nesse final de vida. Foi angustiante pra mim, não quero que seja para meus filhos. Mas só quem viver, verá...

“...e agora a minha mãe esquece dos ocorridos de um dia inteiro”, diz a Simone, na forma de escrever tão bonita e criativa que ela usa no blog da Wicca. Isso me fez pensar nos lapsos de memória que ando tendo, cada vez mais freqüentes. E se um dia pensei que era resultado do excesso de coisas na cabeça – chega uma hora acaba a capacidade de armazenamento do slot de memória -, agora acho que pode ser sinal de alguma coisa não muito boa pro mundo à minha volta, mas abençoada pra mim. Ou o esquecimento não é um estado de graça?

De qualquer forma, parece que estou bem acompanhada.

Só espero me lembrar disso...

outubro 26, 2006

Ressaca de fechamento é de lascar. Mas eu devia ter adivinhado, antes de me arriscar pelo mundo, num calor de 30 graus, passando de um ônibus para outro, um mais fedido do que o outro. A condução para a zona sul é mais fedida – e isso é uma constatação, não preconceito. Ou pode ser preconceito comprovado, sei lá.

Chego aqui esbaforida – quem me conhece sabe o tanto que eu deságuo nos dias quentes. E descubro que tem um monte de nada pra fazer. Se não estivesse tão dura, ia passear na João Cachoeira. Melhor não: tem tentações que a gente não precisa enfrentar. Então, é melhor esperar o sol baixar um pouco pra enfrentar o busão de volta. E ficar quietinha no pedaço...

Mas vir para esse pedaço da cidade me fez lembrar da minha criancice. Passo todos os dias pela rua Tabapuã. E era exatamente no número 900 dessa rua que morava meu avô. O número 900 não existe mais: um prédio imenso na esquina ocupou tudo. Mas não foi só isso que mudou. Fico procurando pontos de referência que guardei na memória e, claro, nada mais existe.

A rua tranqüila – quando muito, passavam cinco ou seis carros por hora – agora é via de ligação. Mão única, fica lotada de ônibus e carros. Engarrafamento lá é rotina. E pensar que foi ali que aprendi a andar de bicicleta... Aquele monte de casas residenciais deu lugar a um comércio intenso, onde se encontra de tudo. A cada dia descubro uma nova lojinha. Claro que só vejo do ônibus – ainda não me atrevi a descer e explorar tudo a pé. Ainda mais que sempre passo por ali entre meio dia e uma da tarde, quando o sol está lá em cima, castigando.

Mas uma hora qualquer eu crio coragem. Ainda mais depois que vi, hoje, a Tecelagem Cinerama - e eu estou louquinha pra fazer saias novas pra mim...

outubro 04, 2006

Lembre-se sempre que você é único. Exatamente como cada um dos outros.

Tenho um joguinho que, além de fazer passar o tempo, distribui frases das mais divertidas. Essa é uma delas. E acho que vale para todo mundo.

Outra ótima: políticos e fraldas têm de ser trocados com freqüência, pelos mesmos motivos. Bom para essa período de entressafra eleitoral, interregno de primeiro e segundo turnos... De vez em quando pretendo usar alguma frase que aparece por lá. Andei anotando algumas, mas descobri que existe aí um problema de tradução. O que fica muito engraçado em inglês, perde muito da graça em português. Bom, mas tem as que dá para aproveitar. Essas, vou usar.

Não tem nenhuma sobre família. Acho politicamente correto, uma vez que não é bom mexer com a família dos outros. É, no mínimo, prudente.

Mas vou deixar a prudência de lado. Família, pra mim, é aquele espaço onde a gente pode ser o que é mesmo. Todos têm uma máscara social, aquela que mostra para todo o mundo exterior, geralmente a mais conhecida. Tem muita gente cuja máscara social é bem próxima daquela para consumo interno. Outros, são completamente diferentes. Bom, cada um é cada um... Mas quando está junto dos seus, a máscara pode ficar de lado por um tempo. O verniz pode ficar um pouco arranhado, não tem importância.

Família, pra mim, é aquela coisa italianada, que todo mundo tira sarro porque, no fundo, queria pertencer a uma assim. Aquele espaço onde todos se pegam feito gato e cachorro porque, graças a Deus, cada um é cada um e nem sempre estão em acordo, mas, no final, todo mundo se abraça porque, além das diferenças, existe um amor muito grande entre todos.

E ai de quem falar mal de alguém da família!!! Não interessa que há pouco você mesmo estava falando mal desse alguém. Você pode, o alguém é da sua família, é seu sangue. Quem falou mal, não. Ele é de fora, não conhece, não sabe, não convive. E nesse círculo só vale parente consangüíneo – cunhado, genro, nora e, às vezes, até marido – estão fora. Aquela tia que – sortuda! – casou com seu tio, então, nem é levada em conta... Ou, então, os eleitos. Aqueles com quem a gente tem tamanha afinidade que não precisa falar pra ser entendido – esses são mais raros e, por isso, muito preciosos...

Me peguei pensando nisso nos últimos dias. Chega uma hora em que amigo e família meio que se confundem. E também tem hora que família e amigo são coisas totalmente incompatíveis. Claro isso tudo passa e as flores voltam a desabrochar, regadas de amor...

Mas haja jogo de cintura pra tourear...

outubro 02, 2006

Acho que já citei aquela música do Chico aqui - ou terá sido em outro lugar?

Não importa - "pra mim basta um dia/não mais que um dia/um meio dia". Pra mim bastou um fim de semana. E tudo mudou. Impressionante.

Até sexta, eu estava de saco cheio do trabalhinho em trabalho da Prefeitura, mas animadinha para o final de semana, que teria jantar com a família e aniversário, além da eleição, claro. Teve tudo isso e mais duas coisas que começaram a rolar e que não sei pra onde vão me levar ainda. Mas me animaram a continuar a viver desse ofício que escolhi tantos anos atrás.

Ainda não conto tudo, dá azar antecipar. Quando as coisas começarem de fato, conto. Aí já meti a mão no breu, o que vier é lucro. Ou prejuízo neutralizado - espero.

Agora, vamo que vamo: 5.6 recém adquiridos, up grade na máquina, reciclagem na cabeça. Vai ser bom? Acho que sim. Vai ter aborrecimentos, nervosismos, histeria? Acho que sim. Certamente será melhor, pelo simples fato de trazer uma coisa que gosto de fazer: mexer com texto. Sem complicação, preto no branco - ou fonte no monitor, como queira.

Vem vida nova por aí. Bem-vinda!!!!

setembro 19, 2006

“Ouvir vozes na cabeça pode ser normal, diz estudo” é o título de uma matéria no Portal do Estadão. Ainda bem, considerando-se que os órgãos de audição estão na cabeça da maioria das pessoas. Eu, tolinha, pensava que todo mundo tinha orelhas e ouvidos instalados na cabeça, mas, diante desse título, começo a achar que tem gente que ouve por outras vias.

Que outras vias serão essas?

Eu fico aqui tirando sarro do texto, mas isso é só um exemplo das bobagens que a gente lê por aí. E é só uma questão de parar um pouco pra pensar naquilo que se está escrevendo (o que não é o caso deste blog, viu?). Gerar, por exemplo, pra mim, sempre foi um verbo que remetia à gravidez e a energia. Senhora dona Fulana gerou três filhos – uma forma elegante de dizer que ela tinha mesmo parido três fedelhos. A Eletropaulo é responsável pela geração de energia à cidade (às vezes ela esquece disso, mas deve ser um problema de curto, tá ligado?). Mas hoje em dia todo mundo gera alguma coisa: renda, emprego, vantagens, fluxo... Se fossem nomes de crianças, elas teriam nomes bem originais...

Gente, na medida do possível, lembrem-se que a gente produz renda, cria emprego, usufrui vantagens e segue fluxo. Existe sempre aquela saída de que tal coisa resulta em outra coisa. A língua portuguesa é tão rica em verbos, por que temos de usar só aquela meia dúzia que está na moda?

Outro modismo que me irrita – por ser errado: alguém pleitear alguma coisa junto a um órgão qualquer. Fulano solicitou empréstimo junto ao Banco Tal. Quer dizer: Fulano foi pedir dinheiro emprestado ao banco que fica ao lado (junto ao ) do Banco Tal. O Brasil, por exemplo, até um tempo atrás, só pedia empréstimo ao organismo que ficava do lado do FMI. Mas devolveu o dinheiro ao FMI. O vizinho do FMI não deve ter ficado muito contente...

Resumindo: é melhor ir direto à fonte e não na torneira do vizinho...

setembro 15, 2006

Acabei de saber e acho que tenho de registrar: morreu Oriana Falacci, um dos grandes ícones do jornalismo e uma das responsáveis por eu insistir em assumir esse ofício. Tinha câncer, estava com 77 anos. E dizia que não queria morrer “porque a vida é bela mesmo quando é feia”.

Addio, Oriana. Arrivederci...
O que me chamou a atenção primeiro foi a saia. De um tecido leve – devia ter seda misturada -, estampada com um floral miúdo, delicado, num corte levemente godê. Bonita, pensei. Mas tinha uns remendos na altura das coxas que enfeiavam. Quando olhei pra cara da sujeita que vestia, entendi. Não era uma sujeita, era um sujeito. Bem pobre, pelo jeito. Mas de sobrancelhas delineadas, batom e brinco de argola. Fez a alegria da macharia que estava no ônibus – os comentários, depois que desceu, transformaram o coletivo numa grande festa.

Mas eu gostei da saia...

*****

Tenho de refazer meus cálculos. Mas faço feliz: descobri que não sou a única maluca no pedaço. O Assis, que trabalha do outro lado do prédio, tinha feito a contagem dele, mas com base errada – assim como eu. Ele contou os quadrados do canto e achou que todos eram iguais. Eu contei os centrais e também achei que eram iguais. Explico: os três quadrados centrais têm, cada um, 420 círculos. Os dois que ficam próximos às paredes, não. Têm, cada um, 378 círculos. Então, meu cálculo de 5.460 círculos estava errado. Eles são, na verdade, 5.376 no total.

Espero que agora a conta esteja certa...

Mas conversava com o Assis sobre essas estranhas manias que a gente tem de contar. É o lado Monk da gente, sem dúvida. Ele disse que já contou quantas barras de cobre tem nos terraços onde a gente fuma – isso é fácil, são 4 em cada janela, cinco janelas de cada lado, dez em cada andar, cinco andares: 200 barras. Tem muita gente que ganha vida vendendo cobre – chegam até a roubar fios pelo mundo – que faria a festa com essas barras...

Tem doido pra tudo nesse mundo...

setembro 14, 2006

São, no total, 5.460 círculos, divididos em placas quadradas. Em cada quadrado lateral (são cinco de cada lado), 336 círculos; nos centrais, 420. Contar levou o tempo de um cigarro. É isso que a gente vê quando olha pra baixo no terraço que serve de fumódromo. E isso tudo está no teto do quarto andar. Será que alguém contou isso antes ou eu fui a primeira? Bom, tem louco pra tudo nesse mundo...

Fiquei um tempão sem postar nada porque percebi que o blog estava virando muro de lamentação. Também é, mas não é só isso. Se é pra reclamar da vida, não vale a pena. Melhor procurar outra forma de desabafo e não encher o saco de quem resolve ler o que a gente escreve.

Bom mesmo é caminhar no Parque da Água Branca, no Revelando São Paulo. Tem muita coisa bonita, que enche os olhos e incentiva a criatividade. E tem muita comida gostosa, que faz o estômago roncar alto mesmo sem ter fome. Cansa, é verdade. Mas à noite a gente consegue dormir gostoso, gostoso, ainda mais depois de jantar uma bela pizza com os filhos e as noras...

E outra coisa boa é passar uma tarde no papo furado com a filha, trocando confidências, fazendo fofoca e distraindo o neto.

A vida deveria ser feita só de finais de semana...

E o que é melhor é que tem outro vindo aí...
Eu tinha postado outra coisa aqui, juro. Mas não sei que pau que deu que ninguém conseguir ler o que foi publicado. Então, vai outra coisa, pra ver se sair direito. Se sair, a gente recoloca o texto anterior, que está guardadinho no Word...

É bom fazer tudo antes, pra ter o tal do back-up...

setembro 06, 2006

Nascem mais ervas no chão
Do que flores no meu jardim
Regadas pela solidão
Que só tu plantaste em mim
Caem as folhas no Verão
Recobrem o teu roseiral
Não encontro explicação
para este outono anormal
Deito as sementes à terra
Espero que cresçam enfim
Como cresceu o amor
Que já tiveste por mim
Mas passam-se luas e luas
Passa a chuva o sol e o vento
E só nasce um pensamento
Sem cor, só de um tom cinzento
Pergunto-me se alguém
Sentiu tamanha tristeza
Que até baralha também
As forças da natureza

Não, não é o que eu sinto, mas acho tão bonito que quis registrar. A música é do Madredeus, do disco Faluas do Tejo. Nem sempre curto as músicas do Madredeus, acho que às vezes eles extrapolam na melancolia e acaba virando tristeza mesmo. E os portugueses podem não ser exuberantes, mas certamente não são tristes. Mas este disco está muito lindo e particularmente esta música (No Meu Jardim – Sementes à Terra) mexe comigo. Vai ver que é porque junta jardim, amor, solidão...

Nos últimos dias, por força de uma série de circunstâncias, tenho exercitado a solidão, coisa que raramente fiz na vida. Lembro de momentos em que tudo o que eu queria era ficar quieta, sozinha. Nem sempre conseguia e os poucos momentos sempre foram valorizados. Pra mim, é importante ter um momento de solidão. Não a solidão aquela triste, solitária, desesperançada. Mas a solidão de quietude, introspecção, de fazer companhia a si mesma. Não é nem pra analisar o momento, colocar tudo em ordem.

A solidão que eu experimento agora não era desejada, mas é bem-vinda. Posso até reclamar dela, mas – garanto – faz mais bem do que mal. Sei que não estou só, embora não tenha
nenhum humano comigo (os gatos, estão todos por perto).

A alegria nem sempre precisa de companhia....

setembro 03, 2006

Então, é assim: dia de sol fraquinho, mas claro. Dizem que vem por aí uma massa de ar polar que vai baixar as temperaturas – mas claro que isso será no final da tarde, quando eu estiver saindo do meu “castigo”. Trabalhar no final de semana, ninguém merece. Mas eu acho que joguei pedra na cruz e bati na mãe em encarnações passadas. Não consigo me livrar disso.

Tá, aqui é mais espaçado, é um a cada sete – o próximo já está marcado, será em 21 e 22 de outubro. Será que ainda estarei por aqui? Sei não. Meu contrato é temporário, até acabarem as eleições. E como o cara que estou substituindo foi dar assessoria pro Alckmin, desconfio que meu emprego acaba na primeira semana de outubro. Claro que torço pra que não, não pelo emprego, mas pelo Alckmin. Vamos esperar pra ver, de qualquer forma. Pode ser até que surja alguma coisa que me tire daqui antes mesmo das eleições (toc, toc, toc, pé de pato mangalô três vezes!)...

Aí é assim: a gente chega às 10h00 e vai embora às 18h00. E fica sozinho praticamente o dia inteiro, atendendo um ou outro telefonema de algum repórter que acha que tem notícia no final de semana. Sábado ainda dá pra sair, almoçar em algum lugar. Domingo, sem chance. Restaurante no Centro não abre aos domingos. Ninguém vem ao Centro comer no domingo. Ninguém faz compras no Centro aos domingos: o Shopping Light nem abre, assim como as lojas da 25 de Março. O Centro só funciona de segunda a sexta. No mais, está morto.

Meu treino de solidão está cada vez mais intenso...

agosto 29, 2006

O prédio é quadrado. Imagine um quadrado imenso com um buraco quadrado no meio. Coloque isso em 3D e terá uma visão bem próxima do que é o prédio. Funcional, sim. Muito bom para escritórios – para moradias, não consegui chegar a uma conclusão de como seria a divisão interna.

A ficha técnica no site sampa.art diz que o Edifício Matarazzo tem 16 andares e quase 28 mil metros de área construída. “Encomendada pelo conde Matarazzo ao arquiteto italiano Marello Piacentini em 1938, o prédio é um exemplo significativo da influência que a ideologia fascista exerceu na arquitetura. Linhas sóbrias, altos pilares e uma grande massa quadrangular, lembrando um pouco construções medievais”, diz o site. As janelas, amplas, se abrem para o Viaduto do Chá e para o Anhangabaú. Na parte interna, balcões se abrem para o quadrado interno. Daqui do 6.º andar, o piso parece bem próximo: é que só tem balcões do 4.º ao 10.º andar. O 4.º andar é fechado nessa parte interna. Do 10.º pra cima, só janelas.

Daqui de baixo a gente vê alguma coisa do tal jardim suspenso que existe no último andar, com árvores frutíferas, plantas ornamentais e um pequeno lago com carpas. Pelo que me contaram, se a porta estiver aberta, a gente pode entrar e visitar. Mas isso é raro. Visitação pública deixou de ter há alguns anos. E, pelo que parece, ali pousa o helicóptero do prefeito quando ele vai pra algum canto dessa cidade. O barulho é infernal aqui em baixo, imagino como será para quem trabalha mais pra cima...

Mas o que deixa um tanto furiosa é essa mania de o povo daqui manter as persianas cerradas, tampando o mundo lá fora. Quando está sol, tudo bem, a luz reflete no monitor e não dá pra enxergar o que se está fazendo. Mas hoje está cinzento, chuvoso. E mesmo quando tem sol, no final da tarde acaba a luz, dá pra subir as persianas. Mas as persianas ficam baixadas, como se ver o mundo lá fora fosse uma coisa proibida. Assim, sinais do mundo exterior só aparecem em algumas folhinhas secas que o vento empurra para os terraços, onde se fuma. E, mesmo assim, quando a gente consegue ver antes da faxineira...

Odeio janelas fechadas!!!
Pique, quando chegou em casa, não era Pique. Havia uma dúvida entre Corina e Tiana – branca e preta que era, tinha de ter um nome que lembrasse o Timão.Uma colega no trabalho soube que minha gata (a Tila) tinha caído no mundo na Serra da Cantareira. Contou que havia aparecido uma pequenina no quintal dela, sabe-se lá de onde. Perguntou se eu a queria. Foi mais ou menos como perguntar se macaco quer banana. E lá fomos, Guille e eu, buscar a bichinha.

Já era final de ano e, poucos dias depois de a gatinha chegar em casa, os meninos foram para um acampamento de férias, ainda sem se definir entre Corina ou Tiana. Sozinha em casa com a bichinha, comecei a chamá-la de Pequenina – daí pra Pique foi só uma questão de preguiça. Quando os meninos voltaram, duas semanas depois, ela já era Pique. E assim ficou.

Tinha cara de brava – pelo menos é o que todos diziam. Tinha gente até que dizia ter medo dela. Bobagem. Como uma gatinha pode meter medo em alguém? Mas, como sempre digo, medo é uma coisa subjetiva. Cada um tem o seu e é bom o outro respeitar. Então, pra essas pessoas, Pique tinha cara de brava. Também não vou dizer que não era brava – alguns gatos da casa sentiram isso na pele, com toda a força das unhas dela. Aliás, eu também, quando inventei de levar o Fuji lá pra casa, achando que eles iam se dar bem. Eu é que me dei muito mal: fiquei com o braço marcado por arranhões por um bom tempo porque tentei apartar a briga...

Na verdade, acho que o problema não foi o Fuji (um amarelão mais pra ruivo, grande e lindo), mas a época. Pique não estava no cio – e isso era fundamental pra ela aceitar um macho novo em casa. Quando acertamos a época e o macho, foi a vez um persa preto com queixinho branco, de um casal amigo. Pique foi pra casa deles, passou uma noite e voltou pra casa sem termos a certeza de que tinha cruzado. Tinha. A cria foi uma só: a Nina.

Já nessa época tinha outra gatinha dando sopa pela casa: a Miga. Que era pra ser Mirela, por ser amarela, mas acabou sendo Miga, de amiga. Essa não lembro de onde veio. Só sei que veio e ficou. Era da Ma, mas ficava com todo mundo. Até a hora em que meteu a cabeça no quarto do Guille numa época em que a Pique tinha dado cria. Ela paria dentro do guarda-roupa dele e lá ficava por mais de uma semana, sem sair pra comer ou fazer xixi. Não sei o que houve, mas a Pique saiu de dentro do guarda-roupa feito vaca brava e deu uma corrida monumental atrás da Miga. Daí pra frente, a pobre da Miga não podia mais cruzar o caminho da Pique – se isso acontecesse, era briga na certa. E briga feia.

Chegou uma hora que a Miga teve de ir embora. Mas isso eu conto outra hora....

agosto 28, 2006

O hominho subiu no ônibus bufando. Aparentava ser jovem, embora uma calvície insidiosa lhe desse um ar mais velho. Terno preto, camisa branca, gravata perfeitamente ajustada e uma maleta a tiracolo, daquelas de carregar laptop. Subiu bufando mesmo – e nem estava tão quente assim, embora fosse meio dia e pouco e, portanto, com o sol firme lá no alto.

Nem bem vagou um lugar, ele correu pra sentar. Era o lugar reservado, aquele de encosto amarelo, mas tudo bem, não havia ninguém mais em pé. O lugar podia ser ocupado, sem problemas. Sentou e suspirou. Alívio? Sim, mas também calor. A mão correu para o pescoço pra soltar a gravata, que foi tirada assim, sem cuidado. O colarinho da camisa ficou dobrado para o alto, mas ele nem ligou. Eu liguei: aquele colarinho dobrado para cima me incomodou o caminho todo.

Retirada a gravata – ele a dobrou com cuidado e guardou na maleta -, aberto o botão de cima da camisa, mais um suspiro. Este sim, de alívio mesmo. Mas era pouco. Não demorou e quem saiu foi o paletó. Que também foi dobrado com cuidado e guardado na maleta. Aí, era só dobrar as mangas da camisa pra ficar refrescado.

Pensei (maldosamente) que, nesse ritmo, se ele não descesse logo, ia acabar sem roupa dentro do ônibus. Mas ele parou por aí e desceu no mesmo ponto que eu. Deve ter notado que eu o espiava, porque, quando atravessava a rua, me encarou, sério. O perdi de vista numa esquina da Xavier de Toledo – ainda com o colarinho dobrado pra cima, me incomodando.

Meu lado Monk é mais forte do que eu imaginava...

agosto 23, 2006

Dizia minha mãe, quando eu era menina, que as sardas na minha cara tinham aparecido depois que eu peguei um gato sarnento no colo. Claro, peguei a doença. Depois do tratamento, curada, fiquei com a cara pintadinha, como se tivessem espalhado canela. E quando tomo sol, piora. Não sei se é verdade, se existe alguma relação entre a sarna e as sardas. Mas elas estão aí desde que me conheço por gente...

Com isso, fica clara também minha paixão pelos gatos. Não lembro do tal gato sarnento, nem sei de quem era ou de onde apareceu. Não lembro de minha mãe tê-lo descrito alguma vez. Mas quando comecei a ter gatos em casa, ela logo lembrou da história.

Na verdade, o primeiro da lista que me lembro foi um pretinho que peguei de uma senhora, lá na Vila Carrão, quando ainda era solteira. Nem consultei meus pais. Peguei o bichinho e levei para casa. Minha mãe esperneou, meu pai deu risada, e o bichinho ficou. Era o Michi, um preto que ficou enorme e adorava dormir em cima do muro durante o dia e em cima de mim à noite. Depois de algum tempo, sumiu. Dizia minha mãe que quando gato sente que a morte está próxima, ele foge de casa pra morrer longe. Acho que ela inventou isso pra eu não ficar sentida. Esse gato, aliás, tem uma história das mais curiosas: logo que chegou em casa fez amizade com a cadelinha que minha mãe tinha, uma viralatinha miúda e espevitada. E não demorou para começar a mamar na cachorrinha. O mais incrível é que a cadela, que nunca tinha cruzado na vida, começou a ter leite – e isso foi comprovado por minha mãe, que um dia não agüentou de curiosidade e foi apertar a tetinha da bichinha pra ver se tinha alguma coisa. Tinha. E o espanto foi geral.

Do tempo de solteira, parei no Michi. Só retomei as gatices depois de casada, com o Tiziu, outro preto que nem lembro mais de onde veio. Marcinha era pequena, Guille começava a andar – e se dedicava a puxar o gato pelo rabo, levando da cozinha para a sala e vice-versa, sem nenhum protesto do bicho. Quando mudamos para o apartamento, Tiziu foi para Mogi. Lá viveu um tempão, sempre saindo para as farras noturnas e voltando meio estropiado para casa, para os cuidados de dona Geralda.

No apartamento, a Tila (era Maria Domitila), uma tricolor linda e carinhosa, abriu caminho para uma pletora de gatos. Tila sumiu na Serra da Cantareira. Decidimos que era hora de ela cruzar, então a levamos para a casa de uma amiga, que tinha um preto lindo. Sumiram os dois, mas minha amiga acredita ter visto a Tila algum tempo depois, acompanhada de uma ninhada de gatos, perto de um matagal. Ficamos um tempo chorando a ausência da Tila, mas a Pique veio por fim à tristeza.

Mas essa é outra história, para outra hora...

agosto 22, 2006

Acho que o cara que disse que dinheiro não traz felicidade na verdade estava querendo dizer que dinheiro e felicidade não andam juntos necessariamente. O que se faz para ganhar dinheiro não garante felicidade. A felicidade vem de outras formas – e raramente enche os bolsos ou engorda a conta no banco.

Fiquei pensando nisso no ônibus, depois que alguém me perguntou, em casa, se eu gostava do que estava fazendo. Nem pensei. Respondi não no ato. Não gosto, mesmo. Ainda mais porque me dá a sensação de estar num lugar só para compor quadros. Não há trabalho pra duas pessoas aqui – e este trabalho envolve três pessoas. Bom, se eles querem pagar, alguém tem de receber. No caso, sou eu. Mas que dá a sensação de estar lesando o contribuinte, isso dá. Culpa da maldita consciência profissional, aquela que sempre cobra e em cuja fila acho que entrei duas vezes – porque sei que tem gente que passou direto...

Felicidade, pra mim, tem relação direta com paz, tranqüilidade, sossego. Com poder fazer coisas bonitas, ver ou ler bobagens. Com ver flores desabrochando no meu jardim e acompanhar o desenvolvimento desta ou daquela plantinha.

A Penélope de Os Catadores de Conchas é o meu ideal de felicidade. Como ela, tento bravamente viver minha vida e deixar meus filhos viverem as deles. Nem sempre consigo, quase sempre acabo enfiando a colher torta, mas – juro! – eu tento. Como ela, quero poder se bastar, adorar a própria companhia e, de vez em quando, usufruir de uma conversa jogada fora com alguma pessoa legal. Um boteco, um cineminha... Se der, um teatro, um show, um jantar num restaurante. Penélope não tinha gatos, mas acho que é porque Rosamunde Pilcher, a autora do livro, também não é muito chegada a animais - nunca apareceu um nos livros que li dela.

Na verdade, a minha felicidade depende de patrocínio...

agosto 16, 2006

“A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia pra ver Maria”. Não tem nada a ver com a Flor da Idade do Chico, mas a gente faz hora não pro meio-dia, mas para a uma da tarde, quando o povo sai pra almoçar. E aí faz fila, não pra ver Maria, mas para comer (comida, não a Maria).

E como reclamar é exercício diário pra um monte de gente, ouve-se muita reclamação. É tudo muito: trabalho, calor, gente. Verdade verdadeira? O calor é muito, sim, mas só na rua, onde também tem muita gente. Trabalho, não. Mas acho que eu é que sou mal-acostumada com as coisas.

Tudo o que é novo surpreende. No meu caso, estou me acostumando devagar à nova rotina, obrigações, responsabilidades. Fase de adaptação: apara aqui, aumenta lá, ajusta um pouco. E vamos que vamos.

Reconheço: é bem divertido...

agosto 08, 2006

Uma amiga me escreve perguntando as novidades. Quer que eu conte tudo o que de novo aconteceu. A gente pode tentar – mas não sei se dará pra contar tudo, não... Bom, vai dar pra contar as novidades registradas. Deve ter mais, mas passaram desapercebidas. Aí vale como novidade?

Já contei, pelo menos duas vezes neste blog, que elfo, pra mim, tem a cara do Orlando Bloom. Que, por sinal, está mais bonito no segundo Piratas do Caribe do que no primeiro. Mas descobri um novo interesse cinematográfico. Já tinha descoberto, mas resolvi esperar um pouco, porque um filme só não dá pra se saber ao certo. É Jake Gyllenhaal (segundo o IMDB, o sobrenome pronuncia-se Jill-en-hall), uma criança de 25 anos, que descobri em – pasmem!!! – O Dia depois de Amanhã. Tá bom, ele foi um dos cowboys gays de Brokeback Mountain que, por sinal, ainda não vi. Mas soube que já saiu em DVD, assim o negócio é alugar loguinho, ainda mais que tem outro garoto que me chama a atenção, o Heath Ledger. E paro por aqui antes que alguém comece a me chamar de velha tarada. Ou de comedora de criancinhas, o que não é justo porque só acho os meninos bonitos. E alguns são até talentosos...

E mudando de pato a ganso, volto a ficar séria: nos próximos dias, tomo posse (sim, é sério!) num cargo na Prefeitura Municipal de São Paulo. Chique, né? Pois, mas é temporário. De qualquer forma, não sei se quero pendurar as chuteiras num trabalho desses. Mas é trabalho e a gente tem de garantir aquela graninha no final do mês. Por enquanto, ficamos assim, empossadas mas atentas a outras oportunidades. Que vão pintar, se Deus quiser e ajudar.

O futuro começa a ficar rosado novamente...

agosto 03, 2006

Há pouco mais de 12 anos, ela nasceu. Linda, rajada, com a carinha parecendo uma máscara africana. Por causa disso ganhou o nome de Millá, homenagem a Roger Milla, jogador de Camarões. Foi da segunda ninhada da Frozô e quem conhece a história da Frozô sabe o que isso significa. Se não me engano, foi nesse parto que o Fa, que ia viajar para Porto Alegre no dia seguinte, passou a noite em claro massageando a barriga da Frô... Bom, pelo menos, ele conta, deu pra dormir a viagem inteira...

Novinha, Millá decidiu passear pelo mundo. Só que morávamos no 6.º andar e ela saiu pela janela, provavelmente atrás de algum passarinho descuidado. Fiquei muito preocupada. Os meninos saíram pelo quarteirão procurando a bichinha, que apareceu à noite, escondida nuns arbustos do jardim. Assustada, com medo, totalmente estressada. Mas não adiantou: logo depois ela tornou a sumir e só foi aparecer uns dois dias depois, no chuveiro dos funcionários do prédio. Até hoje ninguém sabe por onde ela saiu.

Dessas escapadas ficaram um problema de pele, que nunca foi resolvido. Só controlado. Quando mudamos para a casa, ela já estava mais tranqüila. Não lembro se era de sair para a rua – acho que não. Preferia ficar pelo quintal, bem sossegada. O espírito de aventura se esgotou naquelas escapadas.

Millá tinha a cara da mãe e uma pelagem linda. Miudinha, gostava de ficar aninhada no colo, escondida às vezes dentro do casaco que a gente estivesse vestindo. Nunca foi de brigar, mas não deixava que os outros abusassem dela.

Hoje ela foi encontrar a mãe, lá, onde está o Chiquinho. Que foi camarada: não deixou a bichinha sofrendo por aqui. Foi quietinha, sem transtorno, sem dar trabalho.

Eu não disse nada pra ela, mas espero que ela lembre de mandar um beijo meu para a Frô...

agosto 02, 2006

Agosto começou e já começa a ir. Mais um mês.

Ainda treino pra escrever algo mais sobre a família, mas, por enquanto, não pintou inspiração. Deve pintar mais adiante. Dia 13 é dia dos pais e dia 14 seria aniversário de meu pai.

O velho Isamu, o Ditan dos meus filhos, era de 1920, então completaria 86 anos. Certamente faria uma feijoada pra comemorar. Ele adorava fazer - e comer- feijoada. Abria um buraco no quintal num dia, fazia ali uma fogueira na madrugada do dia seguinte e colocava o feijão pra cozinhar numa lata de óleo de 20 litros (nem sei se ainda existem essas latas). As carnes, de molho pra dessalgar desde o dia anterior, já estavam sendo cozidas na cozinha. Só eram juntadas ao feijão mais tarde, quando já estava quase no ponto. E o feijão ficava lá, apurando, espalhando aquele perfume por todo o quarteirão...

A grande diversão era chegar lá e pescar o paio na feijoada pra comer como aperitivo, acompanhando a cervejinha. A gente passava a tarde toda comendo e ainda levava feijoada pra casa, porque sempre sobrava muito.

Acho que vou comer feijoada no dia 14, em homenagem a ele. Certamente não será igual - mas valerá a intenção, certo?

Quem quiser, apareça...

julho 27, 2006

Era uma mulher, Hatsue. E três homens: Tsuneyuki, Yoshiyuki e Naohiro, nomes que lembram nomes de nobres samurais japoneses, para serem ditos com a boca cheia de orgulho. Todos Abe. No Brasil, viraram simplesmente Maria, José, Antônio e Naco. Pra mim, minha mãe e meus tios.

Vieram parar aqui ninguém nunca me contou porque, mas desconfio, por relatos ouvidos no passado, que meu avô, o velho Eijiro, era dado a jogar jogos proibidos pelo governo japonês. A história mais divertida conta que ele voltou para casa, alta madrugada, saltando de um telhado para outro, porque estava fugindo da polícia. Então, acho que eles vieram pra cá mesmo fugindo de uma ameaça de prisão. E não vamos esquecer que lá, como cá, dívida de jogo é dívida de honra. E dependendo de quem é seu credor, paga-se com a vida mesmo... Mas aí é coisa de minha cabeça, que acha mais divertido ter um avô fugido do que um simples imigrante...

Mal chegaram e a dona Masae, a sra. Abe, minha avó, ficou doente e morreu. Hatsue, como a mais velha, foi cuidar dos irmãos – o mais novo, Naohiro, mal tinha completado um ano (só conseguiu vir para o Brasil porque meu avô falseou a data de nascimento dele, só podiam vir bebês com mais de 6 meses) e foi criado por ela, que, na época, tinha uns 12/13 anos.

Depois que se tornaram Maria, Zé, Antônio e Naco (“um pedaço de alguma coisa”, dizia meu tio quando explicava o apelido), ajudaram o pai durante um tempo e cada um foi cuidar da própria vida. Ela casou com Isamu (seu Jorge, o Kosugui-san), teve quatro filhas (a terceira foi levada pela meningite). Zé casou com Sumiê (a Oba-tchan), teve Gilberto, Sérgio, Carlos e Marcelo (todos eles têm nome japonês, também, mas só lembro dos três primeiros; Seiti, Kenji e Sussumu). Antônio desvirtuou: com convites impressos pra casar com uma moça, teve de casar com outra, às pressas: Iracema, além de brasileira, estava grávida. Nasceram, então, Sônia, Emília, Roberto e os gêmeos Marcos e Márcio – a mais velha tem Kayoko como segundo nome, copiando o meu segundo nome, Kioko; Roberto é Minoru; Marcos e Márcio são Eiji e Yuji, não sei se nessa ordem.

Meu tio Naco foi mais ou menos como um irmão mais velho nosso, uma vez que estava sempre por perto e veio morar com a gente quando eu entrava na adolescência. Ele queria casar com Luiza, a Tchan-Tchan (é apelido, não insulto), mas não conseguia juntar dinheiro pra isso, apesar de ganhar razoavelmente bem. Dona Maria não teve dúvidas: botou o cara em casa e ficava com todo o salário dele. Só liberava a graninha da condução e um pouco a mais para eventuais farrinhas. Pouco mais de um ano nessa vida e ele juntou o suficiente para casar, dar uma festança, mobiliar a casa e ainda viajar em lua de mel. Dona Maria não era de brincadeiras...

Fui dama de honra do casamento, com um vestido de laise maravilhoso, branco com forro rosa clarinho. Já era grandinha pra isso, mas minha tia não quis saber: era eu e pronto. Convivi com o casal bastante tempo, passava fins de semana com eles. Era uma viagem: ia
do Paraíso até Capela do Socorro. De bonde, o velho Santo Amaro, a última linha a ser desativada na cidade, até o ponto final. E ainda tinha uma caminhada até a casa deles. Bons tempos.

Patrícia, a primeira filha, foi o primeiro bebê que peguei no colo. Depois vieram Márcia, Eduardo e Simone – esta, mal conheci porque meus interesses já eram outros e precisava fazer meu caminho.

Dos quatro irmãos, minha mãe foi a primeira a ir. Depois foi tio Antônio. Agora foi tio Naco. Restou o velho tio Zé, aquele que sempre tirava uns trocados no bolso pra gente comprar doce. O que abrigou e cuidou do velho Eijiro na casa da Tabapuã, 900, que nem existe mais. O que ficou com meu cachorro Lulu quando ele se revelou incontrolavelmente irascível com pessoas de cor - coisa que em tinturaria não dá nem pra pensar.

Que o tio Zé ainda fique um bom tempo com a gente...

julho 25, 2006

Exata uma semana depois do último post. E um bocado de coisa rolando.

Transitei, por motivos que não são meus, por um mundo que desconfiava da existência, mas desconhecia por completo: o das pessoas que fazem cirurgia plástica. Muita gente vai dizer que é o endereço da fogueira das vaidades. Outros podem achar que se trata de superficialidade demais. E vai ter até quem se interesse pelo assunto. Eu fui de xereta e acompanhante.

Fiquei espantada. É um tal de tira gordura de onde está sobrando, põe gordura onde falta. Levanta peito, bumbum e não sei mais o que. Implanta-se cabelos em carecas luzidias. Fiquei o tempo todo lembrando de Nip/Tuck, o seriado da Fox que tem dois cirurgiões plásticos que pelo menos nos programas que vi passam boa parte do tempo aplicando botox na cara de mulheres despencadas. E invariavelmente eles iniciam a consulta com a pergunta: o que você não gosta em você?

De quebra, saiu uma matéria na Cláudia sobre o progressivo número de adolescentes, meninas de 13, 14, 15 anos, que se submetem a cirurgias pra corrigir o que a natureza lhes deu e elas não querem. Presente de aniversário não é mais uma viagem a Disney: é cirurgia plástica. Aí fiquei apavorada: como alguém com tão pouco tempo de vida pode saber do que gosta ou que não gosta em si mesma?

Mas acho que falta a essas pessoas um pouco de informação sobre o que vem antes das melhorias. Todo mundo embarca nessa achando que vai sair da clínica um verdadeiro arraso, já formatada do jeito que queria e entrando naquele traje especial, arrasando. Ledo engano. Na verdade, só engano, porque alegria passa bem longe... Todo mundo sai da clínica se arrastando e gemendo.

Neguinha sai de uma aventura dessas cheia de dores e manchas roxas pelo corpo. Isso logo no primeiro dia. Manchas que vão se acentuando, ficando cada vez mais escuras e concentradas emalgum ponto com o passar dos dias. E inchada – mas não era pra ficar mais magra? –, inchaço que vai durar um bom tempo (de 2 a 3meses) pra sumir. Tudo isso sem falar das dores. Neguinha se esquece que é uma cirurgia, sim. O médico corta a gente, sim – em alguns casos, até quebra ossos pra reconstruir a forma. Médico não usa vara de condão nem é fada madrinha. Usa bisturi mesmo e cobra caro. E as dores? Dói pra caramba, durante um tempo. A sensação, me contaram, é a de que se tomou uma surra homérica – e ninguém foi parar na delegacia.

Ou seja: a parte alegre, de se gostar mais, demora um bom tempo pra vir. E ninguém avisa sobre isso antes. E muita cabeça pirou nesse período.

Diante disso, meu instinto de preservação me fez gostar mais de mim mesma...

***

E hoje o dia foi cheio: acordar às 4 da madrugada já é uma aventura. Sair de casa às 5 pra pegar o metrô é outra. E viajar para a Praia Grande, para enterrar um tio, é triste. Chegar em casa antes do meio-dia e sentir que já fez tudo o que tinha de fazer sabendo que ainda tem um mundo de coisas para fazer não é legal. Pior é descobrir, à noite, que não se fez tudo o que se tinha de fazer, por puro esquecimento.

O dia foi longo e ainda não acabou...

julho 18, 2006

E no fim a vida segue.

O tempo de recolhimento passou, é hora de partir para a luta. Recolhe-se o que sobrou, usa-se o que ainda está bom e firme, joga-se fora o resto. Suspiro fundo pra recobrar o ânimo. E pronto. Companheira, o mundo é o limite.

Mas foi bom parar um pouco. Sempre é bom parar pra tomar fôlego e analisar o que houve com os olhos do distanciamento. Continuo sem saber se pisei na bola ou se foi simplesmente acomodação. De qualquer forma, agora sacudiu geral.

E como a gente ainda depende da graninha entrando na conta todo fim de mês (pode ser no começo ou no meio, sem problema – tem de entrar), o jeito é sair para a batalha. Ainda bem que existem várias frentes de atuação.

A vontade, mesmo, é de continuar assim, à-toa. Como disse um amigo, o ócio parcialmente remunerado é uma delícia. É mesmo. Mas o parcialmente acaba logo. Meu sonho continua sendo o ócio remunerado – e ainda chego lá. Antes, tem umas pedrinhas para serem quebradas e removidas.

Que venha a pedreira. O fôlego pode ser um pouco menor agora, mas devagar e sempre a gente chega lá.

Importante é não desistir. Importante é persistir.

E a vida segue...

julho 05, 2006

Já é julho, mês de férias. Criançada em casa, pais não têm férias.

Eu não tinha férias, mas estou descansando. No post passado, disse que era bom sair um pouco da Economia. Saí de vez. Já disse antes, e repito: cuidado com o que você deseja, você pode conseguir...

Consegui, parece. Um passaralho rápido (rápido pra mim, que já estou fora, tem gente lá sofrendo, ainda, com medo de ser apanhado) e pronto: estou fora. De vez. Out. Mais uma vez.

Junto com o reconfortante pensamento de que não preciso voltar mais, que agora o meu tempo volta a ser meu, ficou o desconforto de ser descartada por ser velha. Ultrapassada. Sem mais serventia. Eu já vinha achando que estava mesmo ultrapassada para o métier, mas não pensei que a constatação ia doer tanto... Junto com isso, vem a inevitável indagação: será que ainda sirvo pra algum lugar? Nessa parte, quem viver, verá. Quem sabe não vou ter de começar outra coisa?

Minha mãe tinha quase 50 anos quando teve de sair de casa pra batalhar a vida costurando pra fora. E depois de algum tempo, foi quem sustentou a casa. Ela costumava me dizer que nunca tinha imaginado que um dia fosse viver de costuras. E muito menos que essas costuras iriam garantir a comida na mesa. A pequena Hatsue era forte, uma gigante diante da vida. Espero que, se for preciso, eu tenha herdado um pouco da fibra dela pra começar de novo e garantir a comida na mesa.

O bom foram as manifestações de solidariedade e de amizade. Posso não ter aprendido muito nesse período, mas acho que fiz mais amigos. E isso é bom.

O bom também – mas sofrido – é que agora eu tenho de decidir o que fazer de minha vida. Ainda vai demorar uns dias, que eu me dei pra não pensar no futuro. A merda é que todo dia seguinte é futuro... Mudanças são boas, sempre. Chacoalham a gente, fazem com que a pessoa se sinta viva.

Mas já não era hora de eu assentar e me preocupar só se vou acordar amanhã?

Seja o que Deus quiser.... Ou, na melhor linha Scarlett O'Hara, amanhã eu penso nisso...

junho 19, 2006

De vez em quando a gente dá uma sumida. Mas volta. E nem era falta de assunto. Era preguiça, falta de tempo, essas desculpas que às vezes são até verdade. Na verdade, ensaiei algumas coisas, mas joguei fora porque, por algum bom motivo, não deu pra postar. Tudo bem, ninguém saiu perdendo.

Este mês, estou na Copa. Não na Alemanha - quem dera! -, mas no esportes. Adoro esses eventos esportivos. Saio um pouco da mesmice e caio numa área onde, pelo menos, entendo o que está sendo dito. O quadrado está meio capenga, mas são quatro jogadores cujos eu nunca apalpei (nem tenho vontade, se bem que Adriano é bem interessante...), mas sei que existem e consigo até ver se estão jogando bem. Só isso já dá um conforto enorme para a gente.

A minha parte no latifúndio de espaço que é o caderno de Esportes, porém, não é o Brasil. Estou cuidando da Itália – esses, sim, bastante apalpáveis. Aliás, cuido do grupo da Itália. E todo dia há que se pesquisar notinhas do que está acontecendo com as seleções dos outros países do grupo o que, muitas vezes, rende boas risadas. É sempre divertido trabalhar no esporte e já começo a torcer para voltar a ser reforço no Pan do ano que vem. Aí é mais divertido ainda, porque são vários esportes.

É bom tirar férias da Economia...

***

Nesse tempo de sumiço, muita coisa rolou, mas nada assim de importância que mereça destaque. A não ser Zizou, mon chou.

Zizou é a nova gatinha, aquela que uma vizinha trouxe, que contei no post anterior. Zizou, de Zinedine Zidane, cujo pendura as chuteiras logo depois desta Copa. Que, pra ele, deve acabar logo, ainda esta semana. A França não conseguiu jogar bem nem pra deixar feliz um de seus maiores jogadores.

Allez, Zizou!

maio 29, 2006

A menina nova ganhou um nome: Dida. Não é homenagem ao goleiro da Seleção, não. É Dida de escondida - porque ela demorou a explorar a casa. Didinha é amarela e linda, com um olhar tranqüilo, como bem observou o filho que a batizou.

E como ter 15 gatos é pouco, apareceu outra. O Jefferson, veterinário da tropa, diz que na minha casa os gatos brotam. Desconfio que é verdade. Esta de hoje apareceu no colo de uma senhora que, há algum tempo, deixou uma gatinha preta comigo. Essa gatinha era dela e apareceu no jardim da casa da frente, casa cuja dona odeia animais. A faxineira de casa, que trabalhava lá naquele dia, achou que era minha – a família preto de casa é imensa – e soltou a bichinha no jardim. Pra encurtar a história, a Queca, como a chamamos, era mal-humorada e não gostava de gatos. De gente sim, desde que por pouco tempo, em condições de tempo e temperatura controladas. Aí apareceu a dona – essa mulher da qual já falei – dizendo que a gata se chamava Yoko e tinha fugido do apartamento por ciúme, porque ela arrumou outro gato. Aconselhei-a a por tela nas janelas, como medida de segurança, para o outro gato não fugir também. Respondeu que não valia a pena, porque o apartamento era alugado e, como estava agora no 10.º andar (tinha mudado, antes era no 1.º), não tinha perigo porque era muito alto e o gato não ia pular. Mas ela, agora, não queria mais a Yoko, porque o outro gato era muito mais simpático. Queca/Yoko vivia na rua e acabou atropelada. Sentimos, mas não muito porque ela morava em casa, mas não podia ser chamada de nossa...

(Parênteses de maldade: o tal gato mais simpático da senhora que não quis mais a Queca/Yoko pulou da janela do 10.º andar e morreu. Agora, ela disse que vai botar rede na janela antes de pegar um outro gato.)

Mas a tal senhora baixou em casa hoje com uma menina linda, linda. Branca, de manchas rajadas no corpo e rabo inteiro rajado. Os olhos têm um risco que lembra as máscaras egípcias. Um charme. Boazinha, não foge, curte colo. Não por muito tempo – afinal, criança tem de ficar solta. Fuça por todo canto, sem o menor constrangimento. Desconfio que tem dono e escapou da casa por algum bom motivo. Fiquei com ela e vou avisar o vigia da rua. Se não aparecer o dono, a gente fica com ela. E aí dá um nome.

Acho que de 15 pra 16 a diferença não é tão grande...

E ela é tão linda...

maio 24, 2006

E lá estava ele. Franzino, cara de povo popular (como dizia o companheiro Ruffatto), agasalho de plush, mochila nas costas e duas rosas na mão, embaladas separadas. Uma, mais caprichada, tinha um enfeitinho a mais. E ele levava as duas flores com o maior cuidado. Pegou o Jardim Brasil, que, felizmente, estava meio vazio. As rosas certamente chegarão inteiras à mão das presenteadas.

Sorte delas.

***

Isso foi ontem. Hoje, dia feio mas deliciosamente frio. Só a chuvinha atrapalhou, mas ela está trazendo mais frio. Maravilha!!!

Em casa, bicho novo. Uma menina amarela e branca, cuja carinha nem vi direito, porque ela chegou e se escondeu embaixo do armário da cozinha. Mas parece que agora, três horas depois de ter chegado, já se atreveu a sair e explorar um pouco a casa. Ainda está assustadinha, mas logo se acostuma. Quando tiver nome, eu conto.

Aqui, alguma coisa está estranha. Não sei se é o frio, se é ressaca de meio de semana, se é o atarantamento normal de quem manda, mas hoje, pelo jeito, a coisa promete ir bem longe...

De qualquer forma, continuo na minha...

maio 18, 2006

Coloquei um cartaz na minha mesa: Quero de volta a minha cidade!!!

Porque isso que estava por aí nos últimos dois dias não era a minha cidade. Era um arremedo.

***

Parece que as coisas estão voltando ao normal. Na hora em que a gente vê o povo brincando, tirando sarro das coisas que aconteceram, é sinal de que a vida voltou à rotina. Hoje, no ônibus, o maior sarro era da cara do sujeito que vendeu a fita pro PCC por R$ 200,00. Era unanimidade: se é pra se sujar, que seja por, no mínimo, R$ 1 milhão...

Na feira e nas calçadas, os camelôs fazem abatimento: “Foi o Marcola que mandou”, dizem.

Que bom que a minha cidade está voltando!

***

... E quando a gente só quer se lamentar, além de não ser ouvida, é interrompida e podada. Toma bronca. Como alguém se atreve a se lamentar pra mim, diante dos enormes e importantes problemas que estou enfrentando?

Parece que ultimamente os problemas dos outros são sempre menores do que os da gente.

E ‘a gente’, aqui, não sou eu, não...

Por via das dúvidas, por questão de segurança, pro público externo, não tenho problemas e nem porque lamentar as coisas que acontecem.

Xô, urubu!!!

maio 15, 2006

Aí, a cidade parou. Quer dizer, não parou – mas bem que tentaram. Um boato a cada dez segundos, cinco minutos para se espalhar e cinco horas pra ser desmentido. O povo tem reações muito doidas em situações de caos.

Toque de recolher às 20h00? Nunca ouvi falar nisso. Sempre que tem toque de recolher é a partir das 22h00. E, numa cidade como São Paulo, não dá pra se ter uma decisão dessas no meio da tarde para ser colocada em prática na mesma noite. Era só pensar com um pouco de lógica pra se saber disso. Mas a lógica fica bem longe num dia como o de hoje.

Me disseram que alguma boa autoridade ouvida ao longo do dia aconselhou as pessoas a ficarem em casa depois das 8 da noite por uma questão de prudência. E foi preciso só uma emissora de rádio entender e anunciar isso como toque de recolher. Dali cinco minutos a cidade estava em pânico. O desmentido veio depois, mas aí já era tarde.

Fica a lição: com a polícia desorganizada e o crime meio organizado, não seria melhor trocar as bolas?

***

Mas ontem foi dia bom. Dia das mães. Ganhei presentes, fiquei junto com os filhos e o neto. Foi bom, foi lindo.

E antes de sair de casa pra ir à casa da filha, uma surpresa: as vizinhas vieram bater à minha porta com uma coisa fofa e branca, perguntando se era minha. Não era. Pena. Mas a bichinha ficou em casa. Meiga, carinhosa, doida por um colinho. Era só a gente sentar pra ela se aboletar. À noite, a dona apareceu e levou. Disse que a bichinha tem 4 anos e não sabe como ela escapou de um quintal todo telado. É telado em cima, também? Não, mas ela é gorda, não consegue escalar. A dona, pelo jeito, tem muito a aprender sobre gatos...

Pena. Mas, por outro lado, alívio.

Acho que é sinal do meu Chiquinho da porta que já tem gato demais em casa...

***

Aliás, ganhei um Chiquinho novo. Lindo, com um gatinho do lado! E uma caneca de gatinho. E um par de pantufas forradas de pele, quentinhas, quentinhas. E uma camisolinha. E um monte de cortes de feltro.

Vou poder tomar chá quentinho, vestida de camisolinha quentinha, calçada de pantufas quentinhas, costurando coisas com feltro.

Felicidade é ter um inverno com coisas quentinhas...

maio 10, 2006

Jovem amiga indo pra Barcelona domingo. Inveja, inveja... E muita, muita saudade.

Disse pra ela, se tiver tempo e oportunidade, ir a Cadaquès. Sentar num daqueles botecos debruçados sobre o mar e bebericar una copa de viño del pais. Visitar a casa que Dali reformou para Gala em Port Llligat e de onde eles costumavam sair para escandaloso banhos de mar – nus! Se der tempo, sempre é bom comer um prato de frutos do mar – qualquer restaurante beira-mar serve coisas excelentes. O tempo é curto pra ela, as emergências são outras. Vai ver ela nem vai achar Cadaquès tão linda assim...

Mas uma coisa eu pedi, especialmente: que ela vá ao Passeig de La Reina e lá sente em um dos inúmeros quiosques, sob os guarda-sóis. E tome uma orchata de chufa pensando em mim. Essa é a maior homenagem que alguém pode fazer para mim quando estiver em Barcelona, cidade que pra mim é a melhor tradução para louca de pedra. Gaudí é a maior prova disso, mas de lá saiu também Juan Miro e sua alma infantil, tudo temperando a parte antiga da cidade, passagem grátis para o mundo medieval.

Poderia dizer pra ela dar uma paradinha no Paraiguas, comer um pa amb tomàquet – o garçon certamente vai dizer que isso não sustenta, que ela deveria comer alguma coisa mais forte. Mas ela pode pedir um jamón, também...

Conto que ela tenha ouvidos suficientemente sensíveis para captar a beleza da língua catalã, de fácil leitura e difícil entendimento. Disse pra ela, em linhas gerais, que é mais ou menos como se um espanhol lesse palavras em francês. Mas não é só isso. Aqui vai só um exemplo, tirado dos versos de Lluis Llach, um grande poeta catalão dos dias de hoje. Ele nasceu em Vèrges, aldeia do Alto Empordà, região que sofre com o tramontano – e fala justamente de sua cidade, que ele ama de paixão:

El meu país és tan petit
que quan el sol se’n va a dormir
mai no està prou segur d’haver-lo vist.
Diuen les velles sàvies
que és per això que torna.
Potser sí que exageren,
tant se val! és així com m’agrada a mi
i no en sabria dir res més.
(Pais Petit, Lluis Llach)

Dor de cotovelo é duro...

maio 08, 2006

975A, linha Ana Rosa – Vila Brasilândia. Eu pego todos os dias o que passa na Dr. Arnaldo entre 15h20 e 15h30. O Morro Grande também serve, mas está sempre cheio. Já começo a reconhecer as pessoas dentro do ônibus, o que é divertido. E o cobrador já me conhece. Sujeito gordo, bem-humorado, sempre de óculos escuros – até hoje, com o tempo meio nublado.

Outro dia ele disse que ficava constrangido de pedir para eu deixar minha sacola com ele. “Vejo a senhora sempre carregada”, explicou. Disse pra ele que não, que a sacola é grande, mas não é tão pesada. E eu já estou acostumada. Ele sempre brinca com as pessoas, sempre está conversando com alguém. Não esquece nunca de avisar as pessoas dos pontos solicitados. “Aqui é a Cardoso de Almeida! Quem pediu pra descer no primeiro ponto?” Ou: “A senhora que vai ao Fórum Criminal, é no próximo, viu?” Ficava impressionada com o tanto de gente que entra nos ônibus desinformada de onde tem de descer. Agora, por causa desse cobrador, não me avexo em pedir ajuda aos outros cobradores. E todos, sem exceção, me avisaram onde eu tinha de descer. Teve um até que pediu que eu o lembrasse “assim que o ônibus sair da avenida Tal, que aí já vai estar perto”, porque senão ele ia esquecer, que a memória dele era ruim. Ruim é a minha. A dele é ótima.

Hoje o ônibus demorou. Passou era quase 15h40. E veio lotado. O cobrador gordinho me explicou: “Teve um Morro Grande na frente que quebrou. Subiu uma porção de gente. E um pouco antes teve um atropelamento, atrasou todos os carros”. Solícito, avisou: “olha, se a senhora quiser sentar, as duas moças que estão no banco alto lá da direita vão descer na PUC. Elas até me pediram pra avisar, mas a senhora pode ir até lá e dizer pra elas que é daqui a três pontos. Aproveita e senta lá.”

Fiquei meio constrangida, mas acabei indo até as moças. Ele não ia avisar, já tinha me pedido pra fazer isso. Quando ia chegando perto das moças – aí já tinha passado um ponto e, portanto, faltavam dois -, ouvi uma delas comentar que o cobrador devia ter esquecido delas. Fiz questão de desmentir: “Vocês que vão à PUC? O cobrador me pediu pra avisar que está perto. Não é no próximo, é no seguinte.”

Elas agradeceram levantaram e desceram no ponto certo. Da porta, tornaram a agradecer ao cobrador. E eu vim sentada, tranqüilamente. Graças ao meu amigo cobrador.

Saber que tem gente legal no mundo me restaura a fé...

maio 05, 2006

Tem um grupo de rapazes daqui que moram na mesma casa, em Perdizes. E, como se não bastasse morar junto e trabalhar junto, eles se encontram nos botecos da vida. Claro, com muito mais gente. Aquela coisa de confraria, gostosa de viver – e que, em algum momento da vida, é melhor esquecer.

Flagrei dois conversando no fumódromo. E foi hilário. Fingi estar pensando na vida, cara de ausente, mas ouvidos atentos. O clima estava ruim, tratei de ir embora, dizia um. Corinthians, cara, explicava o outro que, pelo rumo da conversa, parece ter passado horas ouvindo os queixumes de uma moça. “Divã total”, definiram.

“Ela está bem hoje, sorridente, simpática... Você não lembra de nada?”

“Nada. File not found. E era um baita arquivo...”

“E aí chegou o Fulano com aquela menina muito estranha, com uma inscrição esquisita na bunda... como era?”

“Sua alegria é minha tumba”.

“Pois é, escrota total, falou um monte de bobagem. Mas a amiga era simpática. Ciscadeira...”

“Cisca muito, sim.”

Os dois riem muito, lembrando da tal ciscadeira. Que nem deve saber que está assim classificada. Mantenho o ar ausente, mas por dentro estou dando gargalhadas.

Sua alegria é minha tumba, gravado no traseiro?

Gente, tô fora...

maio 04, 2006

*** Já não chega a fama: a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) acaba de “sugerir” a uma escuderia japonesa que demita o piloto, o japonês Yuji Ide. Diz a FIA que o cara é ruim de direção. Nós, aqui no Brasil, sabemos que isso não é novidade. Pelo menos é essa a fama dos japoneses aqui... Mas não precisava o aval da FIA.

*** E mais uma vez nosso presidente diz que tudo bem para um país vizinho. Não seria mais fácil ele abrir as portas do país e dizer que quem quiser pode entrar e fazer o que quiser? Isso aqui virou a casa da mãe Joana. Kirchner e Evo Morales que o digam...

Posso não ter votado nele, mas sempre achei que ele seria uma solução. Não foi. Errei de novo.

E como se tudo isso não bastasse, ainda temos de ficar até tarde no trabalho esperando a verborragia do Morales. E agora, do Chávez. Ninguém merece...

*** A filha embarca sábado para Varsóvia. Que coisa, nunca pensei que meus filhos veriam tanto do mundo... Mas eu mesma nunca pensei que veria o tanto do mundo que já vi.

*** Todo dia eu saio do site prometendo nunca mais voltar. Todo dia eu entro no site curiosa pra ver as novidades e pronta pra ficar frustrada por não ter dinheiro suficiente pra comprar todas aquelas coisas lindas... Virou vício. Ficou curiosa? Entre no reino da La Reina Madre.

*** E depois de tanto tempo sem escrever, bem que eu podia cometer alguma coisa mais consistente.

Deixa pra lá, amanhã eu tento de novo....

abril 12, 2006

Aí, a imagem no espelho me assustou: quem é essa tão triste, tão apagada? Houve um tempo em que a imagem era mais alegre, mais viva. Não era assim...

Envelhecer faz parte da vida, mas prega sustos na gente...

E agora a Millá está doente. São Francisco, me ajude e me ilumine!!!

Não é justo...

abril 10, 2006

Encontro de segunda das comadres no fumódromo. E então, como foi seu fim de semana? Antes que os relatórios começassem, surge o maluco que interrompe qualquer conversa, conta um caso e vai embora. Todos já estão acostumados com ele e todos dão muita risada com as histórias que ele conta. Mas a de hoje foi hilária.

“Nem conto como foi o meu fim de semana. Teve até polícia com camburão na porta de casa”. Ele vira as costas, a gente pensa que vai embora. Mas ele volta. “Só porque eu toquei minha irmã de casa, às 4 da manhã. Joguei a TV de 29 polegadas dela pela janela e quebrei as coisas dela que estavam em casa. Aí os vizinhos chamaram a polícia porque acharam que tinha um ladrão que estava me torturando. Ficou assim: quatro carros de polícia na porta da minha casa e minha irmã olhando tudo da janela da casa da minha mãe, que mora lá pertinho...”

Mas você estava fazendo um barulho infernal, não estava?

“Não, nada sério... Até a TV, quando explodiu no chão, foi uma coisa rápida, décimos de segundo... Mas derrubei todos os argumentos da polícia. Lei do Silêncio, só se o barulho for contínuo e só teve a explosão da TV. As coisas que eu estava quebrando eram minhas, portanto eu podia fazer o que quisesse com elas. Não podia atingir ninguém com a TV, porque naquela hora não passa ninguém pela rua e, como eu tive de fazer uma força danada pra apoiar a TV na janela, teria visto se alguém estivesse passando. Eles até deram risada e até me ajudaram a desencalacrar um pufe gigantesco da minha irmã, que eu não consegui fazer passar do quarto para a sala. Eu ia jogar na rua, mas um deles, o soldado Nascimento, perguntou se podia levar o pufe pra ele. Mas o pufe não cabia no carro e ele pediu pra deixar na garagem. Ficou lá. Hoje ele ligou, perguntando se podia passar lá à noite pra pegar o pufe, mas eu disse que trabalhava à noite. Disse que, se ele quisesse pegar o pufe, pra ligar pra mim depois que a gente combinava. E ele até perguntou porque eu tinha jogado a televisão – podia ter dado pra ele...”

Depois disso, ninguém mais contou como foi o fim de semana. Ninguém ia conseguir contar história melhor.

Acho que ele é maluco mesmo. E a irmã é mais maluca ainda, porque sempre volta pra casa dele. Pra lavar a roupa dele, fazer comida pra ele, limpar a casa...

abril 07, 2006

Trautear ou tartamudear?

Enquanto ouvia o rapaz sentado à minha frente, no ônibus, cantarolar ao som que só ele ouvia no CD-player, me peguei lembrando desses dois verbos que ninguém mais usa e acho que muitos nem conhecem. Era uma dessas duas coisas que o cara estava fazendo. Mas – qual?

Porque, na verdade, o cururu não estava cantarolando. Cantarolar é cantar trechos de uma música, ao acaso. O cara, não. Ele cantava a música, mas só através de sílabas – tinha até um grupo vocal jazzista que ficou famoso só fazendo isso (é verdade que não lembro o nome, mas que eles era famosos, isso eram) e o coro do Ray Coniff, nos bons tempos, também fazia isso, com as sílabas se confundindo com os instrumentos.

Jurava que era tartamudear. Mas o bom e velho Aurélio, nosso pai, me indicou que não. Tartamudear é gaguejar. O que o cara fazia era trautear.

Então, era isso: tinha um cara trauteando na minha frente no ônibus. E estava divertido, embora eu não tenha conseguido reconhecer a música. Ele sacudia os ombros, batia com os dedos na perna. Como estava sentado naqueles bancos de um só, não precisava se preocupar com o vizinho. Parecia bem feliz, o rapaz... Mas me deixou uma pulga atrás da orelha.

Ainda bem que a gente tem um Aurélio aqui pra matar pulgas...

abril 06, 2006

O gato subiu no telhado. Aliás, o Bôh subiu no telhado. Aliás, o Bôh vinha dormindo na chaminé da churrasqueira há vários dias. Isso não ia dar boa coisa...

Bôh, historicamente, dorme em lugares altos e cai. Dorme tão profundamente que relaxa, se estica, perde o equilíbrio e despenca. Foi assim quando cismou de dormir em cima da televisão. Depois de alguns, tombos, desistiu. Arrumou outro canto. Foi pra cima do aquário. Também caiu. O ideal seria que ele se fixasse em cima da cama, do sofá, de alguma poltrona. Ou mesmo no chão – do chão não passa, certo?

Mas a larica de altura dele sempre falava mais alto. Gostava de ficar por cima. Nem sei se conseguia observar muita coisa, porque, como bom gato, cumpria religiosamente suas 18 horas de sono. E relaxava, se esticava e se espreguiçava. E caía.

Ontem, ele caiu da chaminé. E hoje ele foi buscar lugares mais altos, onde ele pode se espreguiçar, esticar e relaxar sem problema nenhum.

Bôh se foi.

Diga pro Chiquinho que eu mandei lembranças, Bôh... E vê se não monopoliza o santo, como costumava fazer com as visitas que vinham em casa...

abril 04, 2006

Insumo. Toda vez que trombo com essa palavra lembro de uma designer para quem trabalhei há alguns muitos anos. A matéria não rendia, ninguém queria falar, explicar como aquele determinado produto era obtido a partir de alguma boa matéria prima. Acho que era segredo industrial, mas, claro, a gente é repórter e não me venha com essa de segredo que não cola. Aí eu explicava as dificuldades da tal matéria para a tal designer que calhava de ser a minha empregadora, quando ela me saiu com essa: ‘é complicado, né, escrever sem insumo’.

Pra mim, insumo tem a ver com agricultura, agronegócio, terra, plantação, cultivo. Nunca com informação. Mas, pra ela, era sinônimo. E, em economia, também é sinônimo. No meu ouvido continua soando como grão e adubo. E a matéria que falava em insumo nem era de agronegócio, nome chique que deram para as chamadas atividades do campo.

E teve outra pérola hoje: alguém “fez um alerta ontem de que os spreads dos títulos dos países emergentes estão baixos demais, por causa da enorme liquidez global e podem não refletir corretamente o risco de se investir naquelas economias. Os spreads são o adicional de rentabilidade (que reflete o maior risco) dos títulos em relação aos papéis equivalentes do Tesouro americano”. Como quem escreveu entende do assunto, suspeito que não seja bobagem. Mas eu não entendi nada – e ainda tiver de botar título nisso aí...

E agora, como tomamos um furo com o desejo de nacionalização do petróleo da Venezuela, temos de ficar vigiando todo o noticiário internacional pra não comer bola. Como sempre, sobrou pra mim o bagaço da laranja. Pra mim, só, não. Sobrou pra todo mundo...

Gozado, estava na maior animação quando cheguei, mas murchei. Sei lá...

abril 03, 2006

Primeiro de abril, april fools’ para os de língua inglesa. Passou. Nada aconteceu. Ainda bem. Meu ânimo estava mais para fool do que para april, primeiro ou último. Mas aqui quase ninguém liga mais para a data. O primeiro de abril virou outro dia no calendário brasileiro.

Quando eu era menina, a gente passava dias preparando a mentira que ia pregar no primeiro de abril. Nem sempre dava certo porque todo mundo sabia que o dia da mentira estava por perto e se preparava – pra pregar mentira e receber mentira. Será que é porque as pessoas só mentiam de vez em quando? Bom, eu podia entrar agora com aquele discurso de que naquele tempo as pessoas eram mais ingênuas, menos maliciosas, mais verdadeiras, tal e coisa e loisa. Não vou fazer isso.

Os costumes era outros, isso sim. A época era outra. As pessoas eram diferentes. Nem melhores, nem piores. Diferentes apenas. Não havia tanta TV, as novelas perseguidas vinham pelas ondas do rádio. A Internet era coisa impensável, ficção científica mesmo, daquelas que faziam as pessoas rirem – e olhe que os computadores já existiam, mas eram mastodontes que ocupavam salas inteiras e tinham capacidade de armazenamento igual a qualquer PC chinfrim dos dias de hoje.

Então, não havia tanta informação disponível circulando pelo mundo e enchendo olhos e cabeças. As agências de notícias internacionais mantinham umas poucas máquinas de teletipo nas cidades e havia ocasiões em que a notícia tinha de ser levada às pressas, na corrida mesmo, para as redações dos jornais. A TV se fazia com comerciais e programas ao vivo, o vídeo-tape apareceu bem depois. Transmissão de eventos ao vivo, nem pensar.

Hoje, a notícia da manhã já está ultrapassada à tarde. O jornal diário já é entregue com informações ultrapassadas, atropeladas por meios mais velozes. Mal se tem tempo para apreender uma coisa e já tem um complemento aparecendo. Nem bem se assimila uma novidade, já tem outra atropelando a gente. A vida ficou mais rápida e o slow motion só serve pra algumas coisas.

Dou razão ao poeta:
Amar o perdido deixa confundido este coração.
Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não.
As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão
Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão.
(Memória/Drummond)
Só não sei onde ficarão...

março 30, 2006

Chego em casa, tranqüila, desavisada. Nesses momentos, sempre acho uma pena não saber assoviar, porque aí seria mesmo perfeito. Chegar em casa sempre é bom. Hoje não foi.

Susto, sobressalto, a senhora tem de ligar pro seu coisa e pra fulaninha, porque eles estão preocupados, tá todo mundo nervoso, achando que a senhora foi seqüestrada. Eu?!?! Mas eu estava logo ali... Bom, mas isso ninguém sabe porque o coisa e a fulaninha estavam bem longe e nem sabiam o que eu estava fazendo...

Resumo da ópera: o coisa, ex-marido, recebeu uma ligação de um cara dizendo que estava com a mulher dele e que a senhora em questão estava muito nervosa. Não sei se pediram resgate, dinheiro, ajuda, ou sei lá mais o que. Mas o coisa ligou pra casa, ligou para a atual senhora coisa, cuja estava tranqüila e sossegada cuidando da vida dela. Bom, se não é ela, é a anterior... Aí ligou pra cá e a minha boa Adelina disse que eu tinha ido fazer uma entrevista e que ainda não tinha chegado. Se eu não estava em casa, então, a coisa podia ser comigo. Ligou pra fulaninha, a filha, que pra entrar em pânico não precisa muito. Ela sabia onde eu estava, ligou pra empresa e a secretária do cururu entrevistado disse que eu tinha saído de lá há uma meia hora. Trinta minutos não é tempo pra eu chegar em casa, vindo de ônibus, mas fulaninha é estressada e liga aqui pra casa e aproveita pra deixar Adelina apavorada. Seqüestraram dona Lê!!! Pânico geral por uns 10 minutos. Aí eu chego. Era pra ser uma chegada quase perfeita...

Todo mundo sossegado, ligações calmantes realizadas, conversas tranqüilizantes conversadas, fiquei pensando que de fato tem gente que se aproveita do pânico no mundo pra faturar algum. Acho que já comentei aqui mesmo que a grande doença do século é o medo. E parece que não chega a gente viver com medo, tem de aturar esse tipo de coisa, de criaturas sem escrúpulos.

Claro que demos muita risada porque a coisa deu em nada, estava tudo bem. Mas imagino como seria se eu resolvesse me demorar um pouco mais na rua. Bom, não ia mudar muito, porque tenho o hábito de avisar se resolvo desviar do roteiro original. Ou se me atraso, por algum motivo. Pra isso serve o celular que carrego zelosamente – desligado, é verdade, mas carrego – na bolsa. Se não costumasse avisar, o que muita gente faz, aí, sim, a coisa ia ser feia...

Repetindo um monte de gente, em que mundo estamos...

março 29, 2006

Me conta um colega do JT, altamente entendido em flores e plantas, que as flores brancas são as que geralmente desabrocham à noite e têm perfume. Porque são polinizadas por insetos, que são ativos à noite, têm vista ruim e olfato bom. Isso a propósito da minha maravilhosa dama da noite que, ele me contou, é também conhecida por flor de baile, porque dura exatamente o tempo de um baile (dos tempos antigos, claro, que começavam às 22 e iam até as 4 da manhã), e por causa da delicadeza e requinte do seu formato (claro que isso se refere a um tempo em baile era uma coisa requintada e que as moças eram consideradas delicadas). Não é chiquíssimo?

Contou-me, ainda, que Darwin, sem conhecer o bicho, predisse que havia um inseto de tromba muito comprida, porque só assim seria possível polinizar uma orquídea de esporos muito longos. Algum tempo depois, um botânico descobriu uma borboleta que, de fato, tinha uma tromba muito longa e era responsável pela polinização da tal orquídea. A bichinha ganhou aquele nome científico chique, que não lembro mais qual é, mas tem nele o termo ‘predicta’, por causa de Darwin.

Outra coisa que fiquei sabendo é que a ora-pro-nobis que vive ameaçando tirar o sol da Ig, de tanto que cresce, dá flor. Muito bonita, por sinal, mas não conheço flor feia. Nunca vi a tal flor do ora-pro-nobis – e desconfio que as podas constantes não deixam tempo para a planta florescer. Segundo o cururu entendido em flores e plantas, também é uma flor que dura pouco. Agora fiquei curiosa. Vou podar a trepadeira, mas vou deixar uns galhos compridões só pra ver se ele floresce. Problema é que essas folhas, refogadas, ficam uma delícia!!!

Esse colega ficou de me dar mudas de um cacto que também dá flores brancas noturnas e efêmeras. E de um outro cacto, cujas flores aparecem em zigue-zague.

A natureza cuida dos seus seres. Ainda bem que tem alguém que cuida...

*_*

E não tem nada a ver com flores, plantas e natureza, mas esqueci de contar outro avanço tecnológico que me deixou boquiaberta. Me senti assim no meio de um desses seriados que a gente cansa de ver nas Warner e Sony da vida. "Oi, estou aqui no escritório e você está no viva-voz. Minha sócia está aqui do lado, pra participar da entrevista, ok?" - isso foi o primeiro episódio. No segundo, o cururu saca o celular, liga pra uma pessoa pra confirmar uma informação e deixa o aparelho ligado sobre a mesa, com a pessoa falando do lado de lá e conversando com a gente do lado de cá.

Sempre achei meio complicado fazer entrevista por telefone. Gosto de olhar para a cara da pessoa com quem estou conversando, sacar alguma reação, algum movimento, observar os tiques nervosos que o entrevistado nem percebe que tem. Agora, com esse negócio de botar um monte de gente conversando com você ao mesmo tempo, parece que meu gosto se tornou antiquado demais.

Acho que eu estou antiquada...

março 28, 2006

A secretária, poderosa, recomendou: ele está com a agenda apertada, então você tem de chegar pontualmente às 10. Até antes, se possível. A gente não discute com secretária mandona - a gente obedece.

Era do outro lado da cidade, metrô e ônibus dava quase duas horas. Mas acordei de madrugada e cheguei antes das 10, às 9h45. E, claro, o cururu chefe da secretária mandona não tinha chegado ainda. Ligou, disse que estava preso no trânsito. Chegou por volta de 10h30, pediu desculpas - pelo menos é educado...

Executivos, bah!!!

Sentadinha na recepção para um chá de cadeira de 45 minutos - e o prédio era non smoking, existe isso no Brasil, o mundo está perdido!!! - tinha um monte de neguinho entrando. Saindo também, mas era mais entrando. A esmagadora maioria de mochila nas costas e cara de nerd. 60% orientais. Toda a força ao yellow power! Lembrei da mochila que o filho carrega pro trabalho todos os dias, com o lanche, porque não tem nenhum lugar pra se comer durante a madrugada lá, onde ele trabalha.

Pensei que os meninos da empresa eram previdentes. Ali, do outro lado da cidade, também não tem muito lugar pra se comer. Ingenuidade minha. Depois me contaram que os funcionários todos carregam os respectivos laptops de casa para o trabalho e vice-versa. Quer dizer, não era lanche coisa nenhuma. Era trabalho mesmo.

Outra coisa curiosa é a tecnologia dos crachás. Todos têm o seu - e está certo. Mas um carrega num fio pendurado no pescoço e se curva pra passar o cartão na catraca da entrada (eletrônica, claro!). Outro traz pendurado no cós da calça e tira para entrar. E tem aqueles que usam uma espécie de molinete, com o cartão preso na ponta da linha, que se solta e volta a se enrolar conforme é puxado. Fiquei deslumbrada. É a tecnologia de ponta chegando aos crachás. Agora também quero um desses...

E como faço pra ir embora?

março 21, 2006

Então, estava assim: três amigos reunidos numa mesa, todos devidamente acompanhados das namoradas e eu, a mãe, de xereta. O quarto amigo era exatamente o que estava no altar, o protagonista do dia, o noivo. E, de novo, aquele momento de mosquinha que pousa e fica só observando, ouvindo, anotando...

Histórias engraçadas, mas nada de hora da saudade. Eles são amigos, conversam com freqüência, mesmo que não se encontrem. E a grande fonte de gozação era o meio-fraque do padrinho, aquele que até pouco tempo atrás só usava calça de moleton... Ninguém me tira da cabeça que o noivo fez de propósito. Deve ter pensado: “qual o amigo que ficaria mais sacaneado por usar esse tipo de roupa?” A escolha foi fácil... E ser padrinho é uma honra que não se declina.

Mas valeu tudo, do começo ao fim. Festa com direito a música sertaneja - pasmem, o povo dança isso loucamente, foi o que levou todo mundo pro meio do salão! – e até momento I’ll Survive (gozado, todo mundo associa essa música aos gays, mas todo mundo adora dançá-la e solta a franga) e YMCA (com os movimentos copiados do Village People). Decididamente não tem nada mais divertido e brega do que festa de casamento.

Fiquei contente de, mais uma vez – foram dois fins de semana consecutivos! – presenciar um momento feliz da vida do meu filho, de saber que ele é uma pessoa querida por um bocado de gente muito boa. Como disse o pai do noivo, amigos são muito especiais.

A segunda é que foi de lascar. Como se não bastasse ser segunda-feira, a gripe atacou com força e com vontade. E eu fiquei meio de molho, me sentindo profundamente infeliz, alternando momentos de suadouro intenso com calafrios arrepiantes. Hoje a vida está melhor, bem melhor. Então, hoje a vida volta ao normal.

Mas a cabeça está vazia, parece que nada se fixa. Os pensamentos chegam e vão embora, nem dá tempo de pensar direito. Será que o cérebro está todo voltado para produção de catarro? Aliás, se houvesse uso industrial de catarro, eu seria uma fábrica de produção diuturna – e estaria rica. Só que seria passageiro, porque, todo toda boa gripe, essa deve ir embora logo.

Pelo menos, é o que eu espero...

março 13, 2006

Sábado teve churrasco em casa. Eu na churrasqueira – adoro! -, só ouvindo o papo rolar. Descobri muitas coisas interessantes. Nada como juntar velhos amigos do filho pra saber o que ditocujo fazia nos tempos de estudante. E eu que achava que ele nunca aprontava nada... Bom, tem mãe que é cega mesmo... E – acho – mãe de filho calado é mais cega ainda... Mas nada que me preocupasse, nada que me tirasse o sono. E, segundo meu outro filho, tem coisas que a gente não conta nem conversa com a mãe. Tá certo.

Foi bem gostoso, todo mundo numa boa, curtindo, matando saudade do companheiro que agora está do outro lado do país. Se fosse Europa, estaria num outro país, bem distante. E apesar de não ter muito tempo de formados, esse povo já tem histórias pra contar, coisas boas, engraçadas, curiosas. Meu ouvido funcionou a mil e, mesmo assim, tenho certeza de que perdi vários lances. Não tem importância, a gente não precisa saber tudo...

Mas o dia inteiro em pé, na frente da churrasqueira, teve seu preço. Nada fora do comum e, de certa forma, era até esperado. Mas o domingo foi de bode. O que também foi bom, porque fiquei quietinha num canto. O máximo que me permiti foi pedir comida chinesa. E chega, hein!

Há algum (muito) tempo, não teria nenhum problema. Emendaria o churrasco com a feirinha de artesanato que o outro filho me chamou pra ir. E, se bobeasse, até ia à festa da coleguinha no sábado à noite. É, o tempo passa mesmo. A gente sente nos ossos... Se bem que uma extravaganciazinha de vez em quando não mata ninguém. Faz o sangue circular mais depressa, renova os pensamentos, dá novo ânimo (às vezes tira, mas isso é só na hora). Gostei. Se me chamarem de novo, de novo faço. Sem medo de ser feliz.

No mais, a vida segue, tranqüila e sem sobressaltos. Um crochezinho básico ajuda a passar o tempo, o tempo está esfriando, os gatos passam bem. É aquela rotina quase chata, mas reconfortante. Chega um tempo que a gente fica feliz com a perspectiva de que tudo vai continuar do mesmo jeito por algum tempo. Depois enche o saco, mas enquanto o depois não chega, é uma delícia. Algumas certezas são necessárias, dão à gente um certo conforto. é como eu disse: a rotina reconforta.

E mesmo dentro das certezas, sempre tem o imponderável. Aquele que a gente sabe que pode aparecer a qualquer momento, pra deixar a gente mais feliz ou não, mas sempre mais sábia. Que pode mudar tudo ou só algumas coisinhas. Acho que o bom da rotina é isso: saber que, a qualquer momento, ela pode ser quebrada.

E a gente nem precisa se esforçar pra isso.

março 01, 2006

Carnaval passou e foi uma prévia do futuro. Em casa, meus gatos e eu. Mais ninguém. Como teste, funcionou. Foi bom. No fundo, é tudo uma questão de hábito.

Filho agora está em novo endereço - por sinal, ele nem sabia direito qual era, 24 horas depois de estar morando lá. Ainda se adaptando a novas rotinas que ele mesmo tem de criar. Vai ser logo, tenho certeza. Ele tem know-how pra isso. A minha sensação de fracasso continua, mas isso acho que nem o tempo cura. Achei que como ele já tinha ido uma vez seria mais leve. Não foi. É coisa de mãe – e quem tem uma ou é uma sabe que é assim mesmo que funciona. Há muitos anos eu digo que a gente prepara os filhos pra ir pro mundo, só não se prepara pra ver os filhos irem pro mundo. É isso...

Leio no blog de uma nova e jovem amiga que ela acaba de comprar um livro do Saramago e que se prepara para isso há algum tempo, sempre adiando por achar que não estava madura o suficiente. Só pra consolá-la, devo dizer que há livros que não hesito em comprar. Simplesmente não compro. Ou compro e deixo guardado na estante, me desafiando. Mas são títulos que decidi que só vou ler quando estiver bem velhinha, pra ter todo o tempo do mundo pra compreender o que de fato está escrito. A Montanha Mágica do Thomas Mann é um deles. E embora todo mundo diga que Proust é uma maravilha, continuo achando que tenho de ter mais tempo pra ele. Por enquanto, não tenho. Mas desconfio que no fundo é um pouco de preguiça mesmo, ainda mais com essa profusão de leituras mais leves e digestivas que saltam das prateleiras o tempo todo. Coisa pra encher os olhos e esvaziar a cabeça.

Bobagens. É assim que me refiro a esses livros. A denominação foi adotada imediatamente pelo livreiro que freqüenta a redação. E tem o setor drogas pesadas, altamente viciantes, tipo Nora Roberts e outros quetais. Ele chega perto e fala bem baixinho: hoje tem droga pesada... Ele sabe que sou viciada em drogas e bobagens. E é o meu maior credor, hoje em dia.

As manhãs andam reservadas para o crochê, que enche os olhos, ocupa as mãos e a cabeça e dá satisfação imensa quando o trabalho fica pronto. Fui eu que fiz.

A gramática pode estar errada, mas a satisfação é certa.

fevereiro 13, 2006

Volta ao trabalho, semana II. Tudo em paz e em ordem. A cabeça está tranqüila, mas o nariz anda reclamando. Maldito ar condicionado!!! A gente conserta no final de semana e, já na segunda, começa tudo de novo...

Segunda sempre é sossegado. Acho que o povo ainda está meio de bode do domingo, então muito pouca coisa acontece. Felizmente. Meu domingo costuma sempre ser de descanso, mas o corpo acostuma rapidinho e sempre reclama da atividade na segunda.

E por falar em corpo, nada a ver com o meu, claro, passei a manhã vendo corpos fantásticos. Esqueça os super-homens, os homem-aranha, os X-men. Lindos são os atletas que fazem patinação de velocidade nas Olimpíadas de Inverno. E as roupas que eles vestem botam qualquer super-herói no chinelo.

Roupas colantes, que realçam o corpo todo, tudo o que tem de ser realçado. E que coxas, tragam-me meus sais!!! Japoneses e chineses em vermelho e preto; americanos de negro com detalhes cinza e branco; holandeses de cor de laranja e preto; noruegueses de azul claro e vermelho. Os russos, de vermelho com a parte superior em branco com florzinhas estilizadas estavam um tanto viadinhos. Os canadenses, de vermelho, com detalhes em preto e cinza remetendo à maple leaf da bandeira, lindos! Os poloneses colocaram um grifo no peito e lembravam armaduras medievais. Tudo devidamente recheado por rapazes atléticos, bem alimentados, bem treinados... Sai de baixo!!!

Por uma questão de raízes, torci pelos japoneses. Que foram bem, apesar de não levarem medalha: quarto, sexto, décimo terceiro e décimo oitavo, numa lista de 37 participantes. Nada mal.

De vez em quando a TV mostrava flashes de alguma coisa que fiz questão de assistir pra ver se entendia. O tal curling – dizem – envolve precisão e sensibilidade. E é chato pra cacete. Pelo menos para quem está vendo. Acho que jogar deve ser mais divertido. E ainda dizem que tênis é chato...

Mudando de pato a ganso, aliás de pato a gato, Priscila foi embora. Demorou uns dias, a dona dela parecia não querer ter a gatinha de volta, mas acabou indo. Tenho saudades, mas acho que uma a mais, no caso, ia fazer alguma diferença... Pra consolar, Maguinha, minha preta e branca fake, continua firme no viveiro de Ig...

Cada louco com sua mania...

fevereiro 06, 2006

De volta.

Achei que ia ser doloroso, mas nem foi tanto. Provavelmente porque eu também deixei – pelo menos por enquanto – de achar que tudo o que a gente faz aqui é bobagem. Bobagem é a gente questionar o trabalho que faz. Digo por enquanto porque nunca se sabe como vai ser o futuro e vai que em alguma hora uma megabobagem mexa comigo... Férias têm o poder de deixar a gente calminha, calminha...

Bom, mas cá estou, de volta ao trabalho.

Linda (sempre), leve e solta, mas vermelhinha do sol tomado no final de semana enquanto brincava com o neto numa piscina no interior de São Paulo. Um pouco ardida, mas isso passa. E é bom, masoquismo à parte, porque lembra os bons momentos.

O fim de semana também trouxe uma novidade: Ranzinza, na verdade, chama-se Priscila e tem dona. Cuja foi buscá-la em casa, mas não levou. Deixou-a lá, para eu me despedir. Ainda tive uma noite com a bichinha, que, só pra provocar, veio dormir no meu travesseiro... Mas já combinei com a dona dela e ela vai mesmo voltar pra casa. Onde a esperam outros 11 gatinhos!

Quem disse que sou a única tarada por gatos naquela rua?

Minha única bronca nessa história é que Priscila me lembra a rainha do deserto, o filme. Será que a gata ganhou esse nome por causa dos olhos azuis do Terence Stamp? O filme é divertidíssimo, mas acho que a gatinha merecia um nome melhor. Mas, enfim, não sou eu a dona da bichinha e quem dá nome aos filhos são os pais.

Espero que agora Priscila fique em casa, quietinha. E que eu possa visitá-la de vez em quando...

fevereiro 01, 2006

Computador é um bicho muito estranho. Assim, do nada, ele pifa. Não dá sinal, não apita, não suspira, não grita. De repente, pára. O meu, nem ligou. E, por ser um ser estranho, é só uma questão de trocar de tomada. Aí funciona beleza. Mas o técnico vem amanhã, se tudo der certo (pra ele, claro). Por isso, acho que é o último post antes da volta ao trabalho. De sexta a domingo, estarei fora, não vai dar pra escrever.

Aí, sim. Não vou suspirar, nem gemer, nem gritar. Mas vai doer. É tão bom ficar em casa... Segunda vai ser terrível. Mas ainda é quarta. Então, ainda há tempo pra ser curtido.

Lembro, toda vez que estou para voltar ao trabalho, de um período sem trabalho. Quase dois anos curtindo casa e filhos, cortesia de um certo momento de milagre econômico. Claro que chegou uma certa altura em que não deu mais. Então, o jeito foi arrumar trabalho de novo. A noite anterior à volta ao trabalho foi doída. Chorei muito. Lamentei ter de vender meu precioso tempo pra alguém – se não me engano, naquela ocasião era para os Civita -, por um preço que eu duvidava que fosse justo. Mas não tinha jeito. Voltei. E não deu pra parar nunca mais.

Continuo achando que não é um bom negócio. Claro que preciso do salário, mas meu tempo vale muito mais. Como não tem jeito, sigo adiante e só penso nisso nesses momentos, quando estou prestes a voltar. Não adianta muito e nem ajuda. Mas não consigo deixar de lembrar.

É como diz o ditado: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe...

********

Ela é ranzinza como nunca vi. Mal-humorada, brava. Mas é linda. E vai ficar mais bonita ainda, mas não sei se vai ficar aqui.

Foi assim: uma senhorinha que mora na rua de baixo bateu aqui em casa e disse que largaram uma gatinha no jardim da casa dela há duas semanas. "Ela é mansinha, deve ter dono. Avisei todos os vizinhos, mas até agora não apareceu ninguém..." A senhorinha estava à procura de um lugar para a bichinha. O marido é alérgico e já estava começando a ter problemas sérios. E acho que minha casa já está sendo vista como uma casa de gatos... Assim...

Ela é mansinha, sim, mas só com gente. Rosna cada vez que vê um gato - aqui em casa isso quer dizer o tempo inteiro. Só fica tranqüila e dorme ao lado da gente. É siamesa, de manchas bem escuras e olhos azul-turquesa, de um azul inacreditavelmente bonito. Deve ter uns cinco meses. Por enquanto não tem nome. Vai depender da adaptação dela à casa e aos outros gatos. E, claro, de aparecer o dono (duvido) ...

Alguém quer uma gatinha?

janeiro 24, 2006

Aleluia, viva, viva!!! A temperatura caiu um pouco e já é possível até articular alguma coisa com algum sentido.

O primeiro botão da dama da noite abriu esta noite – ainda faltam dois (eram três, mas um caiu com o temporal de sexta-feira) que, pelo jeito, vão abrir juntos. Os botões da catléia também abriram, revelando uma magnífica orquídea branca de miolo esverdeado, um primor de delicadeza. Vou sair daqui a pouco pra comprar filme pra máquina, não quero perder esses instantes. Sei lá quando essa orquídea vai florir de novo...

O livro novo já está quase no final. É O Condenado, de Bernard Cornwell, um cara que fez vasta pesquisa sobre a lenda do rei Arthur – escreveu duas trilogias sobre o tema. Daí que fiz confusão e disse que o livro que estava lendo era sobre esse período. Não é. É ambientado no início do século XIX, quando a Inglaterra acabava de sair da guerra contra a França (aquela interminável). Gostoso de ler e mostra uma realidade completamente diferente da nossa. Uma viagem diferente, que leva a gente para um mundo totalmente desconhecido, com muitas viagens a cavalo, poucos banhos e nenhuma higiene...

Isso me remete a um artigo publicado recentemente no Estadão, o do biólogo Fernando Reinach, falando sobre como a evolução da medicina mudou o conceito humano de dor física. Ele conclui que o homem, hoje, não sabe o que é dor. E, baseada no exemplo que ele dá, acho que concordo. E não vejo nenhum motivo que me incentive a descobrir o que é dor de verdade.

Reinach descreve a descoberta de uma múmia que teve um dente de metal implantado na arcada. Dito assim, hoje, parece ser tranqüilo (embora, pra mim, nada que se refira a dentes e dentistas seja tranqüilo). Mas ele lembra que, na época em que viveu a tal múmia, não havia anestesia para extrações nem próteses dentárias. Assim, o tal implante teve de ser colocado em seguida à extração do dente e martelado no osso para se fixar. Me arrepio de pavor só de pensar em como isso foi feito, mas deve ter dado certo, porque o dente estava lá na múmia até os dias de hoje.

A coluna do Reinach (publicada todas as quartas) sempre tem algum dado interessante que leva a gente a pensar. Cada uma tem um tema e o autor coloca, no final, indicação de livros e/ou textos que aprofundam o assunto para quem tiver interesse.

E viva a lidocaína!!!