setembro 12, 2002

Nossa, faz tempo!!!

A proposta, no início era escrever sempre que tivesse vontade e vontade eu tenho sempre, mas, como dizia o genial Joaquim Lavado, o Quino, através da boca da Mafalda, o urgente nunca deixa tempo para o necessário. E o urgente, aqui, claro, era o trabalho, aquela coisa que – acho que já disse isso – não está na lista das minhas maiores preferências. De qualquer forma. uma hora ou outra a oportunidade aparece.

E como a ocasião faz o ladrão, aqui vamos nós. Foi um período cheio de reflexões, sobre morte e vida, amor e traição, violência e cuidado (não, não se trata de um roteiro de filme, e acho que nem daria pano pra tanta manga). Não sei se vai dar pra falar tudo agora, mas o tempo, no caso, é meu aliado. O espaço é meu, faço dele o que bem quero e quando quero (e posso). Alguma coisa pode ficar pra depois.

Morte, sim, porque uma companheira se foi. Não tenho problemas com a morte, acho que ela é uma seqüência natural da vida. Ser vivo, manja, aquela coisa de nascer, crescer e morrer. Só que o crescer é relativo. Tem quem passe décadas e décadas crescendo; tem os que ficam só umas poucas. E aí é que pega. Pela lei natural das coisas, os filhos devem enterrar os pais. A frase não é minha, é de alguém que gosto muito e que a disse no velório do filho, alguns anos atrás. É isso que me chateia: nem sempre a tal ordem natural das coisas funciona.

Jovens morrem. Crianças morrem. Não discuto as causas, faço uma reflexão sobre essa ruptura. Nem nas mais alucinadas viagens consigo pensar em como deve ser isso. A morte de um filho deve ser tão dolorido que me recuso a pensar que seja possível. Faço como me aconselhou uma amiga, que tem os mesmos problemas em relação ao tema: faz de conta que não existe. E pronto. Mas de vez em quando não dá pra não pensar.

Vida porque aí vem Caleu, meu neto. Isso sim dá prazer. Neto é continuação da gente mais até do que filho, porque já é uma geração na frente. Já é uma prova de que o que a gente fez antes deu certo, os filhos estão criados, prontos pra sustentar uma família – e sustento, aqui, tem um significado bem maior do que ganhar dinheiro suficiente pra isso. Tem uma personagem, Penelope, de um livro, Os Catadores de Conchas, de Rosamunde Pilcher, que diz que a maior herança que os pais podem deixar aos filhos é a capacidade de eles viverem sem os pais. Então, neto é mais ou menos o símbolo disso. É verdade que, no livro, a única filha da Penelope que tem filhos é totalmente incompetente para a vida, mas isso é só um detalhe do romance.

Neto tem a vantagem adicional e irresistível de a gente não precisar educá-los. Papel de avó é estragar neto, criar uma cumplicidade gostosa, de camaradagem, aquela coisa de dar um docinho proibido, de ouvir as idéias malucas que toda criança tem e dar risada. Dar risada junto é maravilhoso. E tem a piscadela pelas costas dos pais, que nenhum moleque deve deixar de receber dos avós.

Não penso em fazer comidinhas especiais, nem em comprar brinquedos mirabolantes para ele. Penso em como vai ser gostoso a gente compartilhar momentos, ver na televisão todas aquelas coisas que povoam o imaginário das crianças e dividir, depois, uma encenação na qual – claro – ele vai ser o herói. Penso em ler livrinhos para ele, conversar sobre bichos e fantasmas (que criança não gosta de falar nos sobrenaturais?). Acho que, na verdade, penso em voltar a ser criança...

Traição é coisa mais pesada, melhor deixar para uma outra hora. E violência, acho que não é preciso se estender muito não. Fiquei assustada, embora tenha dado boas risadas, com o conteúdo de um site, cujo endereço não divulgo porque não sou maluca. Sob um disfarce cristão, o site fala em violência e racismo de uma forma tão maluca que não dá pra levar a sério, mas planta uma dúvida na cabeça. Será que tem alguém que acredita naquilo? Será que tem gente que realmente pensa daquele jeito?

Fico pensando que, de fato, o espaço virtual é democrático, cego e surdo. Mais ou menos na linha de que papel aceita tudo, é só escrever. Internet também: é só publicar. Tanto que, se a gente procurar, encontra. Não procurei, veio parar na minha mão por acaso. E gostaria de não ter visto, pra pelo menos continuar acreditando que algumas coisas são exagero de cabeças inventivas. Parece que não são.

É verdade que tem de um tudo neste mundo do Senhor meu Deus. E muito mais coisas do que a gente pode sonhar, disso não tenho dúvidas. Mas às vezes me espanta a capacidade do ser humano de criar coisas nefastas e nefandas, sob o disfarce daquelas boas intenções que abarrotam o inferno...