março 04, 2008

Para olhar e comer


Logo que mudamos para a casa, há mais de três anos, quis plantar ervas no quintal. O Pão de Açúcar me revelou o capuchinho, que cismei que deveria ter. Fui ao Ceasa e comprei as mudas. Sonhava com uma linda salada verde, temperada com folhas picadinhas e enfeitada com flores, vermelhas, amarelas ou cor de laranja, que dariam um tom dramático no olhar e picante no paladar.

Plantei do lado do viveiro de Ig, a iguana que na época reinava absoluta no espaço que criamos só para ela. Ig literalmente engoliu meu sonho: as mudas de capuchinho, que começavam a crescer, viraram refeição para ela. Era um esforço danado: ela tinha de se esticar toda e lançar a língua em toda a extensão para alcançar os brotinhos mais afastados, mas acho que valia a pena: ela comia que dava gosto. E eu fiquei sem capuchinho. Desisti de plantar mais e me contentava em ter uma salada dramática quando ia ao Pão de Açúcar (mas é caro e é raro encontrar uma bandeja só com capuchinho).

Tenho alguns vasinhos pendurados no quintal, todos com suculentas. Num deles, que tem uma suculenta que parece um fio de pérolas verdes, cresceu um mato bonitinho, de folhas arredondadas. Deixei. E agora, que não tem mais Ig, transformei o viveiro dela num local para plantas. Tirei o mato bonitinho do vaso e plantei lá, junto com o xuxu e ao lado da batata.

Pasme: era capuchinho. Como foi parar no vasinho, só Deus sabe. Mas gostou de ter muita terra e espaço à disposição. Foi se enroscando na tela, cada dia maior. E agora deu a primeira flor. Tem outros botões se formando. Está linda!

Mas quem disse que eu tenho coragem de comer essa primeira flor?

Gatos e filhos


“Primeiro tem de passar a raiva”, disse um filho, quando comentávamos da possibilidade da ex do outro filho visitar a gente – não a gente, os gatos que ela tinha junto com o filho e que vieram direto pra cá – já contei que agora são 19 e o porquê, né? Sei que ela adora esses bichanos e tem muita saudade. Quem teve gatos sabe como é isso – aliás, as fotos são de dois dos bichinhos novos. Mas me surpreendeu a frase e o significado dela.

Concordei, na hora. Depois fiquei pensando. Como ele sabe disso? Terá passado momentos assim, de raiva, por causa de alguma sirigaita? Claro, porque só pode ser sirigaita a sujeita que faz um filho meu sofrer... Tá bom, é verdade que o filho é que pode ter aprontado alguma... Mas isso não importa. O que importou, no momento, foi a constatação de uma coisa que eu nem imaginava que meu filho soubesse e que implica em ter vivido um sofrimento, em algum momento.

É verdade, tem de passar a raiva. E eu sei que ela passa, em algum momento, não conheço o mecanismo exato, mas sei que funciona. Tempo. A vida. A tal da roda viva que carrega a saudade pra lá. Se o Chico cantou isso lá nos idos anos 60, como é que eu achei que meu filho não sabia disso?

Tem mãe que é burrinha, mesmo... Dizem que mãe sempre acha que os filhos não sabem nada, não conhecem nada e que ela existe só para protegê-los das maldades do mundo. Sou obrigada a concordar. Vira e mexe me pego pensando no que um dos pobrezinhos vai fazer, como vai se virar em alguma situação assim ou assado.

A gente sempre se esquece que os sujeitos são indivíduos, com idéias e personalidades próprias, que fazem deles seres únicos. Cada um é cada um, não é assim? Bom, partindo desse princípio, acho que está errado quem diz que mãe é tudo igual, só muda de endereço. Mães também são indivíduos com idéias e personalidades próprias, seres únicos.

Mas, bem no fundo, acho que a maternidade meio que padroniza as mulheres...

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Para quem acompanha minhas aventuras crochetais, comunico que iniciei a manta da filha, em tons de rosa e roxo, conforme ela queria. Assim que estiver pronta, fotografo e mostro.