abril 12, 2007


Reflexões ferroviárias

*** De um lado, a estação. De outro, uma máquina escavadeira limpando o fundo do rio. Haja sujeira! A máquina mergulha na água, sai carregada de sujeira e despeja tudo num monte que vai se formando do outro lado do rio. A gente mata o tempo olhando o trabalho de limpeza. E acho que assisto CSI demais da conta: fico o tempo todo esperando que a escavadeira retire um corpo...

*** Já tenho um ponto favorito de espera: bem debaixo da passarela, entre dois pés de babosa (as babosas não estão na plataforma, mas em frente, no meio de um jardim muito bem cuidado). Para a esquerda, espio o movimento da ponte Cidade Universitária. Na minha frente, o trânsito pesado da Marginal. Atrás, duas paineiras floridas. Todo dia eu faço tudo sempre igual – mas só na ida. Na volta, às vezes, há variações.

*** Para cada dois trens que vão para Osasco, vem um para Jurubatuba. Será o horário? Será que tem mais gente indo para Osasco? O que tem em Osasco? E o que é Jurubatuba? Tem lugares que acabam sendo apenas placas na vida da gente...

*** A paineira mais exuberante está diante da Daslu. Haverá uma mensagem subliminar aí? Sei lá...

*** Três garotos chegaram na plataforma. Roupinhas arrumadinhas, cara de quem ia se apresentar para um emprego. O comportamento denunciou a idade: um deles pulou para os trilhos e pegou um punhado de cascalho. Voltou à plataforma e os três mataram o tempo numa competição de quem atirava pedras mais longe, no rio. Deliciosa molecagem...

*** A estação Cidade Jardim tem o jardim mais florido. Em compensação, tem também o maior acúmulo de sujeira retirada do rio. Acho que uma coisa tem a ver com a outra...

*** Continuo procurando capivaras, mas só encontro urubus... Sinal dos tempos?

*** Um rapaz fala a outro, com ar de desprezo: “Você tem coragem de ler isso aí em público?”
“Isso aí” era um livro do Harry Potter. Fiquei indignada, mas na minha. E pensei se o cara leu escondido, se falou por causa do preconceito ou se só repetiu o que muita gente diz. Se leu escondido, é um imbecil. Se não leu, o que é mais provável, está perdendo uma excelente chance de passar bons momentos e se divertir.

*** Antes de sair do trem, o senhorzinho tira a gravata do bolso e faz o nó entre um balanço e outro. Impressionante!

*** Por que desce tanta gente na Vila Olímpia?

*** E o segurança da estação, que pula da plataforma, atravessa os trilhos e sobe na mureta que dá para a Marginal só pra comprar um pacote de biscoito de polvilho, que o ambulante vendia no meio dos carros?

*** Entro no vagão, me ajeito num espaço e percebo todos os olhares para algum ponto acima de mim. O sujeito, mais magro que a fome, tinha mais de 2 metros. Estava bem do meu lado – eu ficava abaixo do sovaco do sujeito. E todo mundo espiava, à espera do momento de ele sair do trem: a cabeça sobrava inteira acima da porta...

*** O tempo passa e eu me divirto....