
Pintou um trabalho que toca num assunto delicado: doação de órgãos. Delicado porque, para se falar nisso, tem-se necessariamente de se falar em morte – as doações de órgãos em vida são poucas e quase sempre entre familiares próximos. E se o caso é salvar alguém próximo e querido, a gente nem discute. Faz e pronto.
É estranha essa relação com a morte – melhor seria dizer não-relação – que os ocidentais têm. Se eu digo “quando eu morrer”, ninguém me deixa terminar a frase. Nunca entendi direito o porque disso. Será que as pessoas acham que se a gente falar no assunto estará chamando a morte? Mas não é ela uma etapa da vida? Não aprendemos todos na escola que qualquer ser vivo nasce, cresce, amadurece e morre?
Os orientais têm uma relação diferente. Para os japoneses, então, chega a ser meio absurda, até meio louca. A vida não tem muito valor para eles. Pensando melhor, tem valor, sim. E muito. Só não é maior do que viver de forma honrada e digna. Isso, sim, vale mais do que qualquer coisa.
Honra e dignidade são conceitos com cheiro de mofo nos dias atuais e só aparecem em histórias que se passam em tempos antigos. E, geralmente, as pessoas até acham imbecil o mocinho da história, tão cheio de honra e dignidade...
Mas não queria falar sobre as diferenças de ocidentais e orientais. Já vivi no meio dessa confusão tempo bastante pra não ter de esquentar a cabeça com isso. As coisas são como são, não tem discussão.
O que eu queria contar, mesmo, é que descobri, nesse começo de pesquisas, que não adianta deixar escrito ou ter um documento dizendo que você é doador de órgãos. Depois que você foi para o outro lado, seu corpo é propriedade das pessoas de sua família. E são elas que vão autorizar ou não a doação de seus órgãos.
O trabalho em que me meti faz parte de uma campanha justamente para esclarecer as pessoas que elas devem autorizar a doação de órgãos. E para avisar os doadores que eles têm de alertar a família sobre sua condição, deixar claro que quer que seus órgãos sejam doados.
Bom, já tem muito tempo que eu aviso meu pessoal que é pra doar tudo de meu que for aproveitável, para outro ser humano ou para estudos (neste caso, tenho certeza de que meu pulmão de fumante vai deliciar estudantes de medicina). O que sobrar, é pra queimar e depois espalhar as cinzas no jardim do crematório.
Já falo nisso faz tempo, mas não custa reforçar...
* * * * *
O Brad Pitt está aí, ilustrando este post porque não conheço morte mais bonita. Se for como o Joe Black dele, uh-la-la!!!