setembro 06, 2005

Declaro, a quem possa interessar, que trabalho num jornal mentiroso, numa editoria que enche as pessoas de mentiras. Sou, portanto, mentirosa. Se é por força das circunstâncias, ou não, não vem ao caso. É o mesmo caso do soldado nazista que matou um monte de gente porque seguia ordens. Ele não é inocente. Nem eu.

Trabalhar em Economia nunca foi minha maior ambição. Pelo contrário. Nunca entendi o que as pessoas na área queriam dizer, aliás nunca me interessei pelas coisas que eles diziam porque, de alguma forma, eu sentia que aquilo não me dizia respeito. Agora tenho certeza: não diz mesmo. O mundo onde vivem os economistas e os jornalistas que cobrem essa área é outro. Um outro planeta, com outros valores. Cheios de índices e porcentuais.

Estão tentando me convencer de que estamos vivendo um período de deflação. O supermercado que fiz hoje desmente isso. Meu cartão de crédito é a maior prova disso. Comprei menos do que no mês passado e gastei a mesma coisa. Mas, me dizem, isso é média. Certamente você está comprando coisas que estão subindo... A deflação, continuam, é maior para a população mais pobre. Mentira, mentira, mentira. A Adelina reclama da mesma coisa do que eu. E a gente fica indignada junta.

Fazem vários meses que faço títulos e leio matérias nesta editoria dizendo que os preços estão baixando. A queda do IPC-alguma coisa foi provocada principalmente pelos menores preços no setor de vestuário e alimentos. As roupas baixaram de preço? Onde? Em que loja? Em que país? E os alimentos?

Olhe, sou obrigada a concordar. Jornalista é mentiroso. Principalmente os de Economia. Porque é mesmo ou porque mandaram, tanto faz.

Quero trabalhar no Esporte. Não dá pra mentir que o jogador fez e aconteceu, se todo mundo viu na televisão. Não dá pra dizer que um time perdeu o jogo, se ganhou. Futebol é futebol, basquete é basquete, tênis é tênis. Não dá pra dizer outra coisa.

Quero me aposentar e nunca mais ler esse monte de bobagens que compõem o Caderno de Economia. E ainda dizem que é a editoria mais importante do jornal... Só rindo... Aliás, se eu parar, juro que vou passar um bom tempo sem ler jornal.

setembro 05, 2005

Confesso que esse US Open está me irritando um pouco, pela quantidade de americanos que vão passando de fase. Mas hoje, olhando melhor as chaves, percebi que na chave de cima não ficou nenhum. Na chave de baixo, sim. Tem Agassi, Blake e, dependendo do que o Gasquet fizer ou não fizer, Ginepri. Meu favorito entre eles é o Agassi, mas depois de saber da história do Blake, fiquei balançada. James Blake é crioulo - e isso, quem me conhece, sabe que conta pontos. É simpático, tem cara de ser boa gente. Diferente de um outro cujo nunca tinha ouvido falar, um tal Scoville Jenkins, um entojo. Nadal passou pelo antipático, mas não conseguiu bater o simpático. Pena é que Blake e Agassi se enfrentam na próxima fase. Pelo jeito que a coisa vai, a final será entre Agassi e Federer.

Mas eu falei da história do Blake e acho que ela merece ser contada. Tem todos aqueles ingredientes que qualquer torcedor adora: o cara fraturou umas vértebras num tombo, durante um treino, em maio do ano passado. Ficou fora do circuito por um tempo e, quando estava sarando, pegou zoster, uma variação mais brava de herpes, que deixou o cara com um lado do rosto paralisado. Não bastasse isso tudo, o pai morreu. Voltou a jogar só este ano, precisou de convite pra entrar no US Open. E está ganhando. Não sei se passa pelo Agassi, mas este ano o velhinho vai me perdoar se eu o abandonar um pouco. Se um americano tem de chegar à final, que seja um crioulo. Só falta eu pagar pela língua e ser o Ginepri o finalista...

Uma amiga reclamou que não tenho escrito no blog. De fato, meu último post foi no dia 1.º, justo quando anunciei o início do inferno astral. Nessas circunstâncias, melhor botar as barbas de molho. Prudência, água benta e vacina Sabin nunca são demais, já dizia o pediatra dos meus filhos, bons anos atrás... E, devo reconhecer, a maré ruim também começou.

A culpa é da Fran, da Alba e da Maria. Três gatinhas lindas. Fran e Maria são irmãs, de mãe e de farra. Alba é farrista solitária. Mas elas, de alguma forma, conseguiram chegar no quintal do vizinho - o que cria pássaros silvestres. Claro que o vizinho reclamou. Reclamou é pouco: ameaçou mesmo. Não diretamente, mas deu a entender que ele é um cara legal, porque poderia espalhar veneno pra elas comerem. Que é compreensivo, porque já foi a um advogado e sabe que poderia mover uma ação contra mim, mas não vai. Pelo menos por enquanto. Que eu tome então as providências necessárias pra prender minhas gatas em casa. Deu vontade de matar o cara? Pois...

Assim, vou empacotar minha casa. Cercar de tela todo e qualquer espaço por onde os gatos possam passar. Eu é que não me arrisco de soltar meus bichinhos para a sanha assassina desse aprisionador de pássaros que deveriam estar livres na natureza. E não me venham com discursos de que esses animais, se fossem livres, correriam risco de extinção. Maldade é prender um pássado preto só porque o canto dele é lindo. O cara falou que até pensou em se mudar. Tomara que ele faça isso. Se bem que, até lá, meus bichinhos estarão bem isolados dentro de casa. Mas seria uma bênção saber que não terei mais ao lado da minha casa uma família de chatos de carteirinha.

Fora isso, a vida segue. Mas continuo mantendo as barbas de molho.

Como já dizia o pediatra dos meus filhos...