julho 28, 2009

Bobalhona, Anta, Otária. Escolha...


Odeio me sentir passada para trás. Claro – eu e a torcida de todos os times. Mas, no presente momento, pode me chamar de Bobalhona, Otária, Anta – qualquer opção vale.

Foi assim: num sábado, bate à minha porta um cururu de aparência absolutamente comum, perguntando por mim. Disse que era empregado de uma casa vizinha, que a vizinha tinha saído e que agora ele precisava completar o dinheiro da condução para levar a mãe ao hospital ou para casa, sei lá. O fato é que ele estava com uma senhora ao lado. Contou uma longa história, disse o nome da vizinha da qual ele era empregado, o número da casa e jurou de pé junto que na segunda bem cedinho devolveria o dinheiro – R$ 10,00 que a Anta aqui entregou. Ainda espero pelo dinheiro. Sentada, porque de pé cansa.

Em outra semana, outro sábado, outro cururu igualmente comum bate aqui, pede para falar com a dona Lenita, diz que é irmão da vizinha do 495 (duas casas acima da minha) e que a empregada estava deixando a comida pronta para o final de semana e que o gás acabou. Diz que havia chamado o entregador, mas aí descobriu que faltavam R$ 30,00 para completar o valor do botijão. E então resolveu sair e apelar para a ajuda dos vizinhos, que a irmã voltaria no final da tarde e devolveria o dinheiro. Claro que a Otária caiu de novo.

Não contente, fui falar com a vizinha do 495, pra ter certeza de que tinha caído mesmo no golpe. Confirmado. Meu consolo é que o vizinho com quem conversei também já tinha entrado num conto semelhante. E a pessoa que bateu à porta dele citou nomes de pessoas que ele conhece, que moram na rua paralela. E ele, igualmente, morreu com uma pequena quantia.

Não é pelo valor. No fim das contas, o dinheiro era pouco. Duro é saber que é fácil ser enganada. Que é trouxa total - só falta a carteirinha assinada. Acho que muita gente faria o mesmo. Mas isso não é consolo - é a constatação de que o clube dos trouxas é mesmo muito grande...

Com isso tudo, a história de querer ser uma boa vizinha foi para o brejo. Claro que a contrapartida também vale – melhor não contar com os vizinhos. Isso tudo vai contra uma das coisas mais básicas que aprendi desde a infância, da convivência cordial e solidária com as pessoas que moram ao lado.

Aprendi, quando morava em apartamento, que vizinho é alguém que por acaso está na porta ao lado. Bom dia, boa tarde, sem contato manual e quase sempre nem um sorriso. O controle de quem entra e sai é do porteiro. Casa é diferente. A campainha está lá, disponível pra quem passa pela calçada. Então, contar com os vizinhos é fundamental. Sem se meter na vida deles, mas sempre disposta a colaborar, a cooperar.

Acho que vou ter de aprender outras políticas de vizinhança. Parece que nos dias de hoje ter boa fé e acreditar nas pessoas é sinônimo de ser otária...