setembro 29, 2005

Ano novo, vida nova.

Tô louca, não. É que hoje é o penúltimo dia do meu inferno astral. E como já são quase 10 da noite, isso quer dizer que o último dia está bem próximo. E o final vem logo em seguida. Essa é a parte boa.

Inferno astral não é uma sucessão de coisas ruins acontecendo na vida da gente. Na verdade, funciona como a passagem de ano, com a diferença de que o revéillon é o dia do aniversário da gente. Nos dias anteriores a ele, as pessoas fazem uma espécie de balanço do que fez no ano que passou e planos para o ano que vai nascer. Ou seja: é momento de recolhimento, de auto-análise e de decisões. No meu caso, de se xingar um bocado e ficar de mal consigo mesma por não ter feito uma monte de coisas que deveria ter feito. E se xingar mais ainda porque sabe que vai continuar não fazendo. É o tal do círculo vicioso.

Na minha adolescência, chamávamos esses períodos de fossa. E sempre dávamos muita risada porque tinha sempre alguém que sabia que estava enfiando o pé na lama e continuava dando risada. Já então entendíamos que o ser humano tem coisas que não se explica, aceita-se. Ou não. Mas não adianta brigar. Ninguém muda na essência. No máximo, cria um verniz.

Não lembro de ter passado um tempo tão reflexivo antes. Deve ser coisa da idade. Mais velhinha, mais filosófica. Sempre desconfiei que filosofia era uma matéria dedicada aos velhos. Jovem não tem tempo pra isso. Observa, registra e segue em frente. E Caetano dizia que filosofia tem de ser em alemão. Como não sou alemã e não sei falar alemão, então filosofar se torna muito mais complicado.

Melhor deixar quieto....

setembro 27, 2005

Não sei se devo me considerar maluca ou se todo mundo é assim. Como nunca perguntei a ninguém, não sei. E não sei se quero saber...

Existe uma realidade alternativa, para onde vou freqüentemente. Não é um lugar com anjos, fadas e duendes - se bem que um elfo com a cara do Orlando Bloom não seria nada mau -, mas é um lugar particular, meu, onde as coisas dão certo, a conta não fica no vermelho (acho que nem tem conta) e eu posso imaginar o que quiser, posso dar as respostas que quiser e as pessoas vão reagir conforme o meu gosto e a minha vontade.

Quando as coisas não vão bem, as preocupações aumentam, a vida fica difícil, vou pra lá na primeira oportunidade. É mais ou menos como a penseira do Dumbledore, só que eu não tiro pensamentos pra deixar a cabeça mais leve. A realidade real continua lá, me esperando, me preocupando, me angustiando. Mas eu sempre dou um jeito de fugir pra outro canto, busco aquela gavetinha do arquivo onde tudo dá certo e é bonito. E lá tudo fica bem.

Claro que sei que o conteúdo da gavetinha não é real. Mas ela está lá e me recebe sempre de braços abertos. Lá não tem canseira, a viagem de ônibus fica divertida – na verdade, costuma ser divertida mesmo sem realidade alternativa -, os problemas são todos solucionados. Viajo grandão mesmo. Já fiquei brava comigo mesma por não encarar os problemas de frente, por não sair à luta. Mas não adianta: quando vejo, estou com os pés no chão e a cabeça longe, longe.

Ultimamente ando me refugiando com freqüência por lá. E ultimamente não quer dizer os últimos dias ou as últimas semanas. Já faz tempo que ando procurando o pedaço do faz-de-conta.

É o meu mundo ideal e porque é ideal, não existe. Algumas coisas podem até se realizar, mas eu tenho sérias dúvidas. Porque, se se realizarem, não serão como no mundo ideal. Certamente serão boas, como é bom quando os sonhos se realizam.

Mas aí deixarão de ser do meu mundo ideal...

setembro 26, 2005

“Não gosto da criação que dão para os filhos hoje em dia. E aqui em São Paulo é pior. Mãe faz tudo o que o filho manda. Não ta certo. Tem menino com 3 anos que não obedece a mãe. Outro dia, no ônibus, tinha um que chorava, resmungava e ciscava o tempo todo. E a mãe só dizia ‘calma’. Fosse meu, nem abria a boca. Se com 3 anos já faz assim, com 10 vai mandar a mãe embora de casa. Não gosto dessas coisas, me deixa nervosa. Fico com vontade de encher o moleque de bolacha. Esse, do ônibus, fiquei com vontade de ir lá e dar um jeito. Era eu que ia agüentar uma dessas! Não agüento mesmo, já vou logo dando safanão. Minha filha tem 16 e só tomou uma tapona na vida. Mas foi uma só, que ela foi parar longe. Pergunta se ela não me obedece... Homem é a mesma coisa. Só apronta uma vez. O lá de casa arrumou uma biscata por aí e eu logo percebi. Botei o feijão cozido na panela de pressão e deixei fechado por uns três dias. Na hora que ele se aprontou pra sair, todo bonito e perfumado – dizia que ia trabalhar, vê se pode!!! -, joguei o feijão nele. E quando ele veio pra cima de mim com a mão levantada, tomou a panela de pressão na cabeça. Foram cinco pontos na testa. E nunca mais ele aprontou. Tá lá em casa, quietinho. Sai pra trabalhar e volta, direitinho. Mas feijão tem sempre, ele sabe. Imagina a sujeira que foi, ele todo embonecado, fedendo a feijão estragado, com feijão no corpo inteiro. Falei pra ele que se tivesse uma próxima, não ia ter cinco pontos na testa. Ia ficar sem... Você sabe. É pra ele ver o que acontece quando mexe com uma paraibana!”

O discurso, com alguma variação e termos muito mais ricos que não consegui reproduzir, foi ouvido hoje no ônibus, linha Ana Rosa-Vila Brasilândia. A senhora contava isso tudo pra duas amigas, que estavam sentadas do outro lado do corredor. As três rachavam o bico com a história. Então, eu e o ônibus inteiro acompanhamos as aventuras. Mas chegou meu ponto e eu tive de descer. Quase que continuo, só pra saber mais histórias e pra saber se o cavalheiro que tomou banho de feijão estragado tinha aprontado mais alguma.

Mas eu é que não ia mexer com a paraibana arretada...