julho 06, 2007


Vagão em flor

Entrei no trem e tomei um susto: o vagão estava tomado por flores de cerejeira. Quilos, centenas de flores de um tom rosa delicado ocupavam pelo menos dois assentos. Depois do deslumbramento, a decepção: eram artificiais.

Mas claro, só podiam ser artificiais. Acho que só vi galhos floridos daquele jeito em fotos de lugares no exterior. E transportadas daquele jeito, se fossem verdadeiras deixariam um rastro de flores caídas, igual os ipês roxos da cidade. A gente pode não olhar pra cima para vê-los, mas o chão fica tão forrado de flores que é impossível não procurar de onde vem tudo aquilo.

De qualquer forma, alegou meu dia. Nem olhei quem transportava, só percebi que eram duas pessoas, cada uma carregando um maço de galhos, inclusive amassando algumas flores. Ninguém sentou na frente ou ao lado – os galhos se espalhavam. Um cururu que se atreveu, saiu rapidinho, incomodado com tanto cutucão que levou.

Fiquei pensando para onde iam aquelas pessoas com todas aquelas flores. Será que eles têm idéia de quanta alegria espalharam no caminho?

Ou será que sou o único ser nesse mundo que fica contente com uma imagem florida?

julho 05, 2007


Rewind...


Muito tempo longe, muita história pra contar, mas falta tempo, espaço, saco... Vamos ao que me lembro.

Sentadinho no trem, ele ocupava um banco inteiro. Tudo bem, naquela hora o trem ia vazio. Nos pés, uma imensa sacola, da qual ele tirava cones, iguais aqueles de lã ou linha, mas cobertos por um papel colorido. Ele ia tirando os cones, um a um, e furava a ponta mais estreita com um alicate fino, de fazer bijuteria. Depois de furar uma infinidade, tirou uma cabeça de palhaço da sacola e um pano costurado como um saco. Embrulhou a cabeça de palhaço com o pano do avesso, pegou um arame parcialmente coberto com plástico colorido. A parte sem plástico, ele enrolou em torno do pescoço do palhaço, prendendo o saco. Depois, pegou um dos cones, colocou o palhaço recém-vestido dentro, prendeu a roupinha no cone com durex prateado. Da parte mais fina do cone, saía a parte recoberta do arame. Da parte mais larga, o palhacinho parecia solto. Entre duas estações, ele tinha montado pelo menos uns três palhacinhos, enquanto contava para um senhor, que acompanhava atento o que ele fazia, que vendia uns 30/40 bonequinhos daqueles por dia, na semana. No final de semana, chegava a mais de cem. “A criançada fica louca com esse brinquedo”, contava. E ele aproveitava pra montar o brinquedo no trem, porque não dava conta de fazer tudo em casa...

Mais uma estação e eu acaba comprando um palhacinho...

Quatro dias almoçando na casa do diagramador. E desenhando a revista. E fazendo título, olho, legenda, aquela coisa necessária para compor qualquer coisa impressa. Divertido, sempre. Mas aí fico sabendo que a revista não vai rodar na data marcada. E ninguém sabe quando será. Anticlímax total: a gente se envolve numa coisa e quer logo ver a coisa pronta. Aí não fica. Quando ficar, estará velha...

Quem disse que ia ser fácil?

Domingo de folga, fui ver Geoge Clooney e Brad Pitt. Tem Matt Damon também, mas, mas não sou muito fã do ditocujo... George e Brad, maravilhosos. E a história é muito boa. Mas tem de prestar atenção, tanta volta que dá pra juntar tudo no fim. Fico pensando em como será a cabeça de um roteirista de filmes desse jeito. Acho que se enrola tanto que, no fim, só se dando um tiro na cabeça. Mas aí não teria história.

Acho que vou tentar escrever umas coisas assim, mas tenho medo de pirar (ainda mais)...

*****

Fica assim, por enquanto. Não lembro de tudo em que pensei para escrever. Aos poucos, a gente resgata.

Ou não...