março 29, 2007




Minha Tetéia

Já é a segunda vez em menos de seis meses que ela dá um susto na gente. E esse susto ainda não parou de preocupar. Minha Tetéia está com 13 anos e, claro, doida pra virar o Cabo da Boa Esperança e encontrar a irmã Millah e a mãe Frozô.

Está magrinha, fraquinha. Com uma baita inflamação nas gengivas, tão forte que sangram por qualquer coisa. Começamos o antibiótico ontem. Uma dose a cada 12 horas. Ela tem até amanhã para ter uma “melhora interessante” – palavras do veterinário. Por causa da gengiva, come o estritamente necessário. Acho que menos, porque a dor tira a fome. Sei bem disso, passei por momento semelhante há algum tempo. Regime forçado que, no fim, no melhor estilo Poliana, achei que foi bom porque emagreci, aprendi a controlar meu apetite e fiquei melhor.

Tetéia é a última gata do meu tempo de casada. Todos os demais vieram pós-separação. É minha velha companheirinha: sempre dormia na minha cama, geralmente em cima de mim. Isso durou até pouco depois de mudarmos para a casa. Aqui, depois de algum tempo, ela parou de subir as escadas. Fica lá em baixo, nos sofás, em alguma poltrona, em cima da mesa. É verdade que o calor não ajuda nada. Talvez, se e quando o inverno chegar, ela volte para minha cama. E tem os outros gatos que também dormem comigo. Acho que Téia também cansou de brigar com todo mundo para ter o espaço só pra ela.

Nasceu em casa, de um parto complicado (a Frô nunca foi uma boa parideira). Herdou a cara do pai e o chamego da mãe. É carinhosa, doce. Quando converso com ela, olha para mim como se entendesse tudo o que estou dizendo, me dando apoio.

Pedi ao Chiquinho pra cuidar dela e, quando for levá-la, pra fazer isso de forma tranqüila, sem sofrimento. Sei que ela não vai ficar muito tempo comigo. O que tivemos juntas, tivemos juntas e foi o bastante. Agradeço ao Chiquinho por esses momentos, sempre.

Mas eu quero que ela ainda fique muito tempo comigo....

março 27, 2007


O desconhecido está ao lado

Quer se esconder? Venha para São Paulo. Se já estiver em Sampa, mude para o outro lado da cidade e não deixe o novo endereço. Ninguém vai te encontrar. Nessa multidão que é a cidade, só é encontrado quem quer ser encontrado. Se não for procurado por algum crime grave – e tem de ser daqueles bem cabeludos, envolvendo gente realmente graúda – nem precisa trocar de nome. É só ficar quieto, na sua, no seu canto. Ninguém te encontra.

Comecei a pensar nisso ao atravessar a multidão, há alguns dias. Multidão que surge dos prédios todos na hora do almoço, aqui em volta. Tem trechos do shopping que parece extensão da rua Direita ou da Ladeira General Carneiro. A gente fica até zonza. No meio desse povo todo, nenhuma face conhecida. São milhares – e eu não conheço ninguém.

É verdade que eu não conheço todo mundo na cidade. Nem poderia. Mas conheço muita gente, um pouco mais do que as pessoas normais, acho. Um cálculo chutado me diz que uma pessoa normal conhece, ao longo da vida, entre 500 e 700 pessoas. Disse conhecer, não ser amigo – isso é mais raro e só para pessoas especiais. Mas, entre colegas de classe na escola e de trabalho, acho que a estimativa é correta. Claro que tem gente que conhece mais, como tem gente que conhece menos. Mas a média é por aí mesmo.

Me coloco acima dessa média, por dever de ofício principalmente. E porque já gostei muito de puxar prosa com pessoas até em fila de ônibus. Então, não seria de assustar se aparecesse um desses fantasmas do passado no meio da multidão. Já encontrei várias pessoas conhecidas, nas mais diversas situações. Aqui, até agora, nada.

Essa nova localização é totalmente fora do meu eixo normal de circulação. Talvez por isso eu me sinta tão rodeada de estranhos. Por aqui, não conheço nada nem ninguém. Claro que estou começando a conhecer. Tenho andado muito, todos os dias. Os lugares estão deixando de ser estranhos – mas desconfio que nunca serão familiares.

Mas as pessoas... Quer se esconder? É só vir para São Paulo...

março 26, 2007


Capibaribe das capivaras

Já disse antes que não tenho mais espaço para novos slots de memória. O que está lá, está lá. Novidades às vezes encontram um espaço, às vezes não. Não depende de importância, nem de tamanho. Conclui que já atingi o estágio da memória seletiva: guardo o que acho que tenho de guardar. Mas hoje verifiquei que tem muita inutilidade guardada...

Mas como livre pensar é só pensar, claro que saiu alguma coisa. De nariz encostado na janela do trem – me dê um lugar livre, sem aperto, junto à porta oposta à de acesso das pessoas, com visão para o rio e eu quase perco a estação pra descer -, procurava, claro, pelas capivaras. Que ainda não vi, viu?

Aí, lembrei do Rio Capibaribe. Que também nunca vi, mas sei que banha o Recife, junto com o Beberibe, e cujo nome, traduzido do tupi, significa rio das capivaras. Quem me contou foi um amigo querido, recifense, cujo blog se chama Rio das Capivaras. Comprovei a veracidade da história pesquisando na Internet: a Fundação Joaquim Nabuco conta tudo.

Mas, pensando bem, devo ter visto o Capibaribe. Já fui ao Recife, passeei por lá junto com os filhos num período de férias, certamente em algum momento vi o rio – mas isso, pelo jeito, passou batido. Não lembro. Não tem registro.

Hoje, o Capibaribe, como o Pinheiros, está poluído e sujo. Não sei se tanto, acho que não. Mas não tenho notícia de capivaras por lá.

E começo a duvidar da existência das nossas...