outubro 02, 2002

Aí foi. Um longo dia, no qual bati perna feito louca e agora estou exausta. Mas foi bom. Amanhã – ou melhor, hoje – começa tudo de novo, a rotina de volta, com tudo o que tem direito. Mas deu pra dar uma descurtida da rotina e isso é bom. A gente precisa sair da roda viva, de vez em quando.

Nem sempre dá, isso é verdade. Deveria haver um mecanismo qualquer que permitisse às pessoas dar uma fugida de vez em quando, fazer alguma coisa diferente, só pra variar. Um adendo na CLT, pra garantir isso a todos os trabalhadores. Acho que ninguém propôs isso ainda – taí a sugestão, para todos os que estão se candidatando agora...

Quando eu era bem mais jovem e o centro da cidade era um lugar onde dava pra passear, costumava entrar na Catedral e ficar lá sentadinha por um tempo. Não rezava, não ia pra isso. Ia para sentir a calma, o clima de tranqüilidade que, acho, toda igreja deve transmitir. Já nem sei mais quantas vezes marquei encontro na escadaria da Catedral. Era ponto de referência mesmo.

Voltei lá hoje. A Catedral está remodelada, linda! Muito mais clara, mais iluminada, grandiosa. Não lembrava que era tão ampla, tão majestosa. Mas perdeu um pouco a atmosfera de recolhimento, que convidava a gente a sentar e saborear a calma. Bom, talvez o dia não tenha sido dos melhores, a igreja acabou de ser reaberta e muita gente está indo lá pra ver como ficou. Acho que tenho de voltar lá mais pra frente, depois que ela estiver incorporada na rotina do centrão. Aí vai dar, acho, pra sentir se se manteve aquele clima que devolvia serenidade às pessoas.

Mas fui espiar a escadaria, que continua lá, firme, devidamente decorada pelos pombos que agora até se atrevem a entrar lá dentro e sujar os bancos. E, pelo que percebi, continua como ponto de referência para encontros. Menos mal, pelo menos isso se manteve...

O centrão é que mudou muito. Dá medo. Ou será que eu é que criei esse medo? Volta aquela história de que, com a idade, os medos aparecem... Bom, mas na hora H, eu não fiquei lá pra ver se era fruto da idade ou se era de verdade mesmo. Fui mesmo é procurar a segurança e o sossego do shopping...

Agora estou bocejando tanto que daqui a pouco vai ser caso de fratura de mandíbula. Como não estou querendo isso – já imaginou ficar sem falar e ter de se alimentar via canudinho? – acho que vou mesmo dormir....

outubro 01, 2002

"Não adianta dizer ‘eu mudei!’. Mas mudou em que direção? Mudar é ter outra concepção na cabeça. Não é ser mais sorridente, näo se trajar melhor ou pior, não é ter cabeça mais agradável. É ser capaz de entender os desafios do mundo moderno"

Assim falou nosso presidente em Minas. Mas me permito acrescentar alguma coisa ao que disse o presidente. Pior do que dizer ‘eu mudei!’ sem demonstrar é dizer ‘eu sou assim, não posso fazer nada’, demonstrando nenhuma disposição de mudança. E, infelizmente, é isso o que a gente encara pelo mundo afora hoje em dia.

E, no entanto, a gente muda o tempo todo, sem perceber. Aquilo que somos hoje não é o mesmo que era ontem e não será o mesmo amanhã. Filosófico ou não, é isso o que acontece. Mesmo porque não dá pra ficar igual. A criança de um dia será um adolescente com muitas características iguais, mas não vai pensar igual, da mesma forma que o adulto não terá mais o pensamento adolescente. E mesmo o jovem adulto, quando mais velho, já não será o mesmo. A base é a mesma – determinados traços permanecem basicamente os mesmos. Mas se adaptam às condições e muitas vezes ficam escondidos lá no fundo porque não convém que sejam mostrados.

Acho que estou meio filosófica por causa do meu aniversário, que começa daqui a algumas horas. Decretei feriado para mim mesma e vou dedicar um dia inteiro à minha pessoa. Este ser que vos escreve vai tentar fazer algumas coisas diferentes. Mas vamos ver, primeiro, qual será a disposição na hora de acordar. De repente, vem aquela dor de barriga infame que transforma a gente em flor plantada no vaso o dia inteiro... Ou aquela virose que ninguém sabe de onde vem, mas vem... Ou, simplesmente, a boa e velha preguiça adia tudo para algum dia num futuro a ser determinado. Conhece o sine die? Pois é isso mesmo. Vamos ver.

Mas o que eu queria contar mesmo é que, na verdade, dia 1.º de outubro é o meu desaniversário. Quem leu Alice no País das Maravilhas sabe o que é isso. Desaniversário são todos os dias que não são de aniversário. Mas é quando eu comemoro meu aniversário. Essa história confusa tem uma explicação muito simples, fruto da confusão de uma senhora muito miudinha e pequenina que vem a ser minha mãe.

Pois foi assim: a dona Hatsue (acho que ninguém nunca chamou minha mãe assim, era dona Maria pra todo mundo, Fofinha pros netos e mamãe pra gente) compareceu perante o sr. escrivão do cartório da Bela Vista no dia 3 de novembro de 1950 e declarou que, em 1.º de novembro havia dado à luz uma rechonchuda garotinha – eu!!!

Se alguém prestou atenção ao ano, já percebeu que o escrivão era totalmente fora de órbita. Onde já se viu, naquele tempo, uma mulher parir uma criança e estar saracoteando, bela e formosa pelo mundo afora, apenas dois dias depois? Pois ele registrou a criança. Muito tempo depois, minha mãe explicou que tinha se enganado na data e que, na verdade, eu tinha nascido dia 1.º de outubro. E assim, por anos a fio, comemorei esta data como sendo a do meu aniversário.

Há poucos anos – uns 10, 12 -, uma amiga foi fazer um curso de mapa astral. Pegou todos os meus dados para treino e, como me conhece há muitos (muitos mesmo!!!) anos, não teria dificuldade em conferir efemérides (adoro esta palavra, acho chiquésima) de minha vida. Passados uns três meses, ela me ligou, muito preocupada. Os dados não batiam. Não havia perda registrada na época em que meu pai faleceu, não havia dado relevante nas datas de nascimento de meus filhos.

Dona Hatsue morava comigo, por sorte. Mamãe, quando foi que eu nasci? "Dia 1.º de outubro, já contei" Mas me conta como foi... "Eu comecei a sentir as dores no começo da noite e o vizinho, que tinha taxi, me levou pra maternidade. Você nasceu de madrugada".

De repente, veio a luz. Mãe, você foi pra maternidade na noite do dia 1.º ou na noite do dia 30 de setembro? "Na noite do dia 1.º, claro!"

Claro, nada. Só 40 anos depois minha mãe raciocinou um pouco e viu que era impossível eu ter nascido na madrugada do dia 1.º se ela foi pra maternidade na noite do dia 1.º. Então, claro, nasci no dia 2 de outubro.

No meio dessa confusão toda, resolvi que era melhor continuar comemorando no dia 1.º, como tinha feito ao longo de toda a vida. Em tempo: com a data de 2 de outubro, tudo se encaixou direitinho no mapa astral – e vem se encaixando desde então. Então, a comemoração ficou sendo do meu desaniversário, um período de festejos que se estende por 30 dias aproximadamente, até 1.º de novembro, data que consta em todos os meus documentos e é quando recebo aqueles cumprimentos polidos que médicos e dentistas enviam para a casa da gente.

E com essa história de nascimento, eu podia ser normal? Tinha que dar nisso...

Comecei na véspera, terminei no dia. Parabens pra mim!