novembro 24, 2002

Nossa, já tem mais de mês que não escrevo nadica de nada. Quer dizer, médio. Escrevo todos os dias, mas isso é dever de ofício. E não se pode dizer que nada aconteceu nesse tempo que não merecesse registro. Claro que aconteceu. Mas passou e eu, sinceramente, não consigo lembrar agora. Lembro que em duas ou três ocasiões pensei 'isso é uma boa para o meu blog', mas não consigo lembrar do que se tratava. Passou, já era.

Mas pra não perder a prática, vamos de novo. Se não, perco meu espacinho e aí, como fico? Acho que já citei isso antes, mas na minha idade a gente pode. Qualquer coisa, a gente explica que, depois de uma certa idade, esquecer é normal. Mas estava querendo lembrar o que o Quino colocou na boca da Mafalda, numa das tiras: "o urgente nunca deixa tempo para o necessário". É verdade. As urgências urgem e requerem soluções urgentes. O necessário pode ficar pra depois, mesmo porque, depois da urgência, pode ser que nem seja mais necessário.

Com isso tudo, quero dizer que não tive muito tempo. Mentira. Tempo, quando a gente quer de verdade, a gente arruma. Faltou vontade? Também não. Mas deu uma preguiça... É verdade, apesar de adorar escrever, de vez em quando dá uma preguiça danada, principalmente depois de um dia daqueles, cheio de trampo, pesado. É verdade, podia ser antes do trabalho, mas aí não tem graça. A graça está em encher lingüiça em cima de alguma coisa que tenha chamado a atenção no trabalho.

Da última vez, contei do roubo. E, vejam que maravilha, os garotos jogaram o que não lhes interessava num quintal, cuja proprietária entrou em contato comigo e me devolveu o que me pertencia. Aí fiquei cismando por um tempo sobre as coisas que não voltaram. Voltou a bolsinha - maravilha!!! -, aquele item que, como já contei, é bem carinha e da qual gosto muito. Veio sujinha, mas já foi lavada e está de volta à gaveta, esperando uma próxima viagem. Vieram os documentos: a identidade, o CIC, todos os cartões de crédito, o talão de chequespor sinal, tudo já tinha sido cancelado, mas tudo bem. A carteirinha de cigarro, vazia. Poxa, até o isqueiro Bic interessava pra eles? Que gente muquirana...

Bom, aí começa o mistério. Dentro da carteira de cigarro haviam vários números de telefone, cartões de visita de gente que me interessa ter o número sempre à mão. Sumiu tudo. Mas voltou a carteirinha de telefones, onde vários (não todos) desses números estão anotados. Sumiu também um lencinho especial, que serve para limpar óculos sem riscar as lentes, que comprei no Guggenheim de Nova York. Era utilíssimo pra mim. Pra eles, não sei. Será que eles sabem pra que servia? Mas, curiosamente, a embalagem plástica do lencinho voltou.

Tem coisas que eu não tinha a menor dúvida de que nunca mais iria ver. Minha lanterninha era uma delas. De fato, não veio. Deve servir pra examinar algum interior de casa, sem chamar a atenção de quem passa na rua. A carteira de dinheiro podia ter voltado, mesmo sem dinheiro nenhum. Mas não veio. A caneta Montblanc, se viesse, seria a prova de que eram mesmo pés de chinelo. Mas sumiu também uma Bic, daquelas fuleiras, cristal, de tinta azul, usada pela metade.

Fiquei me perguntando que uso esses meninos teriam de algumas coisas. Até montei uma historinha na cabeça. E, olhe, muito particularmente posso contar que fiquei profundamente ofendida de eles terem devolvido a carteira de cigarros, aquela finamente bordada à mão, por mim mesma, em ponto cruz. Quer dizer que ninguém se interessou por ela? Que desfeita! Há algum tempo, numa festa, uma carteirinha de cigarros semelhante me foi furtada. Fiquei chateada, claro, mas ao mesmo tempo interpretei como uma homenagem. Alguém a achou tão bonita que até se arriscou a levá-la, no meio de uma festa, sob o risco de ser visto e denunciado. Agora me devolvem. Será que não apreciaram? Prefiro pensar que são tão tacanhos que são incapazes de reconhecer uma obra de arte. É isso.

Mas a grande novidade mesmo está por vir e acho que é um pouco por isso que não está tendo graça escrever. Meu neto, o pequeno Caleu (argh!). De qualquer forma, se serve de consolo, uma amiga fez uma extensa pesquisa a respeito e descobriu que pode ser o correspondente, em grego de "aquele que ouve o chamado de Deus". Então, está explicado, tem fundo religioso mesmo. Duro vai ser explicar isso pro garoto quando ele for pequenino ainda. Mais tarde, é bobagem. Ele nem vai ligar mais... Mas Caleu ainda não veio, mas deve chegar logo. Aí, sim, vou ter um monte de coisas para contar.

Por enquanto, é tudo firula...