fevereiro 19, 2008

Crochê e lembranças


Parece que postar alguma coisa fica cada dia mais difícil. Aliás, cada mês... Se fosse no tempo da máquina de escrever, eu diria que estou economizando fita. Mas não é o caso. É preguiça, mesmo. Ou falta do que falar.

Na verdade, tem muito a ser dito, mas nada que possa ser expressado. Não deu pra entender? Não tem importância. Cada um que interprete como quiser... E o “cada um faça como quiser” equivale ao “tô pouco me lixando para os outros”, que é mais ou menos a disposição do meu espírito ultimamente. Não quero me explicar, é isso.

Mas tem coisas que valem a pena contar e mostrar. Todo mundo sabe que tenho um neto. Todo mundo sabe que adoro fazer tricô, crochê, bordado, essas coisas que antigamente eram credenciais para uma moça casadoira. Aí, de repente, percebi que nunca tinha feito alguma coisa para o meu neto. Alguma coisa que ele pudesse guardar para, quem sabe no futuro, lembrar da vó Ninita. Juntou a vontade com a inspiração. E deu essa colcha linda, que me fez até sair atrás da máquina fotográfica do filho pra ter uma imagem dela no blog (e não foi só sair atrás da máquina fotográfica: tive de fotografar e descarregar as fotos no computador, coisa que nunca tinha feito antes).

Poucos trabalhos me provocaram essa reação, de querer mostrar para o mundo aquilo que fiz. Um deles está aqui em casa: uma outra colcha, igualmente colorida, que fiz para o filho. Não fotografei, mesmo porque na época as máquinas digitais ainda eram artigo de luxo e a gente preferia mesmo foto em papel. Ainda preferimos, mas ninguém pode deixar de lado as facilidades da vida digital...

Isso me lembra outra coisa: minha produção fica bem mais bonita em momentos de nada a fazer. Essa colcha do filho foi resultado de horas e horas de espera em ante-salas de médicos e hospitais, quando ele enfrentou uma cirurgia no joelho. Antes, tinha feito um xale, mas esse ficou pronto muito depressa, ainda tinha muita hora pra gastar em trabalhos...

Agora comecei outra, formada por outro tipo de módulo. Se ficar tão bonita quanto, fotografo e mostro aqui. Mas fazer crochê me fez pensar em várias coisas. Ponto vai, ponto vem, lembrei que há muitos anos até cometi um conto com intenção de ser erótico, sobre esse vai-e-vem da agulha. Nem sei onde enfiei, devo ter jogado fora. Ruim que só...

E lá pelas tantas me dei conta que sempre tive a penseira do Dumbledore, que eu tanto invejo. Meus trabalhos de agulha contêm, em seus pontos, milhares de idéias, projetos, sonhos, lembranças. Coisas que atravessam minha cabeça e que nem sempre consigo resgatar depois. Não lembro, mas muitas boas idéias devem ter se perdido no meio das lãs e linhas trabalhadas. Tristezas, alegrias, decepções, raivas, entusiasmos, felicidades – está tudo lá, disfarçado em desenhos e formas coloridas. Só não dá pra entrar lá dentro e pegar alguma coisa de volta.

Linha que virou ponto não tem volta, fica entremeada na carreira seguinte...