agosto 23, 2006

Dizia minha mãe, quando eu era menina, que as sardas na minha cara tinham aparecido depois que eu peguei um gato sarnento no colo. Claro, peguei a doença. Depois do tratamento, curada, fiquei com a cara pintadinha, como se tivessem espalhado canela. E quando tomo sol, piora. Não sei se é verdade, se existe alguma relação entre a sarna e as sardas. Mas elas estão aí desde que me conheço por gente...

Com isso, fica clara também minha paixão pelos gatos. Não lembro do tal gato sarnento, nem sei de quem era ou de onde apareceu. Não lembro de minha mãe tê-lo descrito alguma vez. Mas quando comecei a ter gatos em casa, ela logo lembrou da história.

Na verdade, o primeiro da lista que me lembro foi um pretinho que peguei de uma senhora, lá na Vila Carrão, quando ainda era solteira. Nem consultei meus pais. Peguei o bichinho e levei para casa. Minha mãe esperneou, meu pai deu risada, e o bichinho ficou. Era o Michi, um preto que ficou enorme e adorava dormir em cima do muro durante o dia e em cima de mim à noite. Depois de algum tempo, sumiu. Dizia minha mãe que quando gato sente que a morte está próxima, ele foge de casa pra morrer longe. Acho que ela inventou isso pra eu não ficar sentida. Esse gato, aliás, tem uma história das mais curiosas: logo que chegou em casa fez amizade com a cadelinha que minha mãe tinha, uma viralatinha miúda e espevitada. E não demorou para começar a mamar na cachorrinha. O mais incrível é que a cadela, que nunca tinha cruzado na vida, começou a ter leite – e isso foi comprovado por minha mãe, que um dia não agüentou de curiosidade e foi apertar a tetinha da bichinha pra ver se tinha alguma coisa. Tinha. E o espanto foi geral.

Do tempo de solteira, parei no Michi. Só retomei as gatices depois de casada, com o Tiziu, outro preto que nem lembro mais de onde veio. Marcinha era pequena, Guille começava a andar – e se dedicava a puxar o gato pelo rabo, levando da cozinha para a sala e vice-versa, sem nenhum protesto do bicho. Quando mudamos para o apartamento, Tiziu foi para Mogi. Lá viveu um tempão, sempre saindo para as farras noturnas e voltando meio estropiado para casa, para os cuidados de dona Geralda.

No apartamento, a Tila (era Maria Domitila), uma tricolor linda e carinhosa, abriu caminho para uma pletora de gatos. Tila sumiu na Serra da Cantareira. Decidimos que era hora de ela cruzar, então a levamos para a casa de uma amiga, que tinha um preto lindo. Sumiram os dois, mas minha amiga acredita ter visto a Tila algum tempo depois, acompanhada de uma ninhada de gatos, perto de um matagal. Ficamos um tempo chorando a ausência da Tila, mas a Pique veio por fim à tristeza.

Mas essa é outra história, para outra hora...

agosto 22, 2006

Acho que o cara que disse que dinheiro não traz felicidade na verdade estava querendo dizer que dinheiro e felicidade não andam juntos necessariamente. O que se faz para ganhar dinheiro não garante felicidade. A felicidade vem de outras formas – e raramente enche os bolsos ou engorda a conta no banco.

Fiquei pensando nisso no ônibus, depois que alguém me perguntou, em casa, se eu gostava do que estava fazendo. Nem pensei. Respondi não no ato. Não gosto, mesmo. Ainda mais porque me dá a sensação de estar num lugar só para compor quadros. Não há trabalho pra duas pessoas aqui – e este trabalho envolve três pessoas. Bom, se eles querem pagar, alguém tem de receber. No caso, sou eu. Mas que dá a sensação de estar lesando o contribuinte, isso dá. Culpa da maldita consciência profissional, aquela que sempre cobra e em cuja fila acho que entrei duas vezes – porque sei que tem gente que passou direto...

Felicidade, pra mim, tem relação direta com paz, tranqüilidade, sossego. Com poder fazer coisas bonitas, ver ou ler bobagens. Com ver flores desabrochando no meu jardim e acompanhar o desenvolvimento desta ou daquela plantinha.

A Penélope de Os Catadores de Conchas é o meu ideal de felicidade. Como ela, tento bravamente viver minha vida e deixar meus filhos viverem as deles. Nem sempre consigo, quase sempre acabo enfiando a colher torta, mas – juro! – eu tento. Como ela, quero poder se bastar, adorar a própria companhia e, de vez em quando, usufruir de uma conversa jogada fora com alguma pessoa legal. Um boteco, um cineminha... Se der, um teatro, um show, um jantar num restaurante. Penélope não tinha gatos, mas acho que é porque Rosamunde Pilcher, a autora do livro, também não é muito chegada a animais - nunca apareceu um nos livros que li dela.

Na verdade, a minha felicidade depende de patrocínio...