julho 23, 2009

trombadas


Mais uma vez eu trombo com a linguagem publicitária/ marqueteira... Toda vez que eu acho que a jornalista morreu ou foi esquecida, ela reaparece, indignada com as exigências dos clientes...

Depois do tanto de trabalhos comerciais que fiz no ano passado, achei que isso tudo tinha sido superado. Preciso trabalhar pra ganhar dinheiro. O trabalho que aparece exige que a alma jornalista dê lugar a uma alma publicitária que nunca tive, mas que preciso desenvolver. Uma coisa leva a outra, então vamos deixar de lado os pruridos do tal compromisso com a verdade (hoje em dia, nem quem é jornalista leva isso a sério...) e fazer a vontade da clientela.

Continua difícil. Acho que preciso colocar um cartaz na minha frente com os dizeres “o cliente tem sempre razão” pra não esquecer disso toda vez que alguém pede um texto “mais leve” – isso, acho, para os publicitários, significa não dizer tudo, só contar a parte boa.

Agora tem esse trabalho que é parte de uma campanha maior. E, claro, já engoli uma dúzia de sapos com os caras pedindo textos mais leves. Que fiz, conforme a vontade deles – e eles adoraram. O sapo é meu, afinal de contas.

Mas fico pensando em outras campanhas das quais não fiz parte. Será que elas são assim mesmo, só revelam a parte boa da coisa que estão pregando? Deve ser, porque senão as pessoas não irão apoiar, nem participar... Será que isso é justo?

O mais engraçado foi ouvir o publicitário dizer que leu os textos “como se fosse uma pessoa comum”. Disse a ele que não era verdade. Nós, pessoas que trabalhamos com comunicação, jamais seremos termômetros de pessoas comuns. Por mais que a gente tente, não conseguimos. Tem um filtro interno, desenvolvido pelo ofício, que faz a gente olhar um texto sempre com olhos críticos. A gente acha que é pessoa comum - e é, em muitos outros sentidos. Nesse, não.

Tem de ser muito ingênuo pra não perceber isso...

* * * * *

Meu termômetro de povo popular é a Adelina. Através dela, fico sabendo o que o povão acha de um monte de coisas. O mais engraçado – eu vivo tirando sarro da cara dela por isso – é que ela profere as coisas como se fosse a maior expert no assunto. Hoje, na hora do almoço, falávamos sobre a tal gripe suína e ela me saiu com essa: “Ela é poderosa, porque é tríplice. Juntou a aviária, a suína e mais outra que não lembro”.

E não adianta tentar explicar que gripe é gripe e é mutante e evolutiva. Que a cada ano mudam as características da doença, porque ela nunca é a mesma. E que a tal gripe suína é perigosa, sim, quando se junta com alguma outra doença ou deficiência que a pessoa tenha. Ela ouviu a frase no rádio – só a frase, como se não tivesse nada antes, nem depois. E o que o rádio fala é verdade absoluta, mesmo que seja só uma frase solta em um contexto desconhecido.

De novo a alma jornalista trombou com o povo popular...