setembro 15, 2005

Pacarai. Vi a palavra hoje num blog e achei bem bonitinho. E me lembrei, no ato, de outra, que aparecia nos muros do Roosevelt nos idos e dourados anos 60: taqueospa. Lembro que ficamos meses tentando decifrar o que queria dizer aquilo. Até que uma garota da turma, uma das mais espertas por sinal, matou a charada: era só colocar uma sílada antes e outra depois...

Daí, como livre pensar é só pensar e também porque broto também tem saudades, lembrei das aventuras daquela época. No final dos anos 60, todos tínhamos muita energia e nenhum dinheiro. Eu escamoteava dinheiro do lanche e trocava passes - ia a pé para a escola - pra ter algum guardadinho, para os cigarros ou alguma bobagem que não custasse muito caro. Todo mundo fazia isso, mas tinha - sempre tem - aqueles com mais dinheiro. E, graças a eles e aos trocados que cada um conseguia salvar, todo mundo ia para a farra.

Nada grandioso, só umas fugidas de quando em vez para alguma lanchonete, onde todo mundo dividia alguns hambúrgueres e uma (uma só, mesmo!) porção de fritas. E todo sábado tinha baile em algum lugar. Pra minha sorte, minha mãe costurava. E toda semana eu tinha alguma peça nova pra estrear no baile - fosse ele qual fosse e onde fosse. Íamos em turma, voltávamos em turma. Alguns poucos eram namorados, todos eram muito amigos. E tinha os bailes do ITA, uma aventura que durava um fim de semana inteiro, porque íamos de ônibus para São José dos Campos, dormíamos nos dormitórios dos estudantes (meninas de um lado, garotos de outro). O baile era na noite de sábado; a volta, no final da tarde de domingo. Dava até pra curtir a piscina do campus, com direito à paquera dos guapos futuros engenheiros que estavam por lá. Nunca me interessei por nenhum...

Quando os que tinham dinheiro chegaram aos 18 anos, a turma ganhou rodas. E aí o programa era ir para Santos, tomar um chope. Um só, porque o dinheiro não dava pra mais. E ainda tinha a gasolina, que na época não era tão cara, mas tinha de ser paga. E os tanques tinham de ser cheios. Tomar um chope, dar uma volta na areia, molhar os pés no mar. E voltar pra casa, contente e feliz...

A felicidade estava mais ao alcance da gente. Mas, aos 18 anos, a gente merece ter toda a felicidade do mundo...

setembro 12, 2005

Não tenho um tio Quinto na minha vida. Pena. Explico: tio Quinto foi o velhinho que morreu e deixou uma quinta na Umbria para a sobrinha Anna, uma viúva, com três filhos adultos e uma neta, todos personagens de A Casa de Anna, minissérie em quatro capítulos que assisti ontem. A história é bonitinha, com a vantagem - pelo menos pra mim - de ser falada em italiano, língua que gosto muito. Serviu para praticar um pouco o ouvido. E pra passar o dia de domingo. Não vi tudo, não: tinha Federer e Agassi decidindo o US Open, então fiquei zapeando de um canal para outro, até o jogo acabar. Mas me deu vontade de ter um zio Quinto.

No começo da história, pensei em Casa Rossa, de Francesca Marciano, romance que li há alguns meses, também ambientado na Itália e que tinha, como personagem central, a casa de campo pintada de vermelho. Nada disso. A Casa de Anna é bem menos ambicioso, uma historinha tipo Rosamunde Pilcher, muito mais de autodescoberta e afirmação dos personagens. Das personagens, aliás: mulheres bonitas e fortes, mas inseguras e medrosas. Contraditórias? Sem dúvida. Mas as mulheres são assim mesmo.

Zio Quinto, que nem aparece na história, deixa a casa para Anna. O filho, Marco, quer vender a propriedade logo. Corretor da bolsa, perdeu dinheiro alheio e precisa devolver rapidinho. Além disso, a mulher está esperando o primeiro filho. A venda da quinta seria a solução. Como único filho homem, é sempre consultado nas decisões. Mas nem sempre é ouvido - e isso fica claro ao longo da história. Ninguém sabe dos problemas financeiros dele, que vai se enroscando num monte de problemas. A filha mais velha, Giulia, é casada, tem uma filha e um marido que a trai com a secretária. Ela lhe dá um bom chute no traseiro mas, ao longo da história, descobre que ainda o ama e se torna amante dele. Bem divertida essa situação, sem dúvida. E cômoda. Livia, a mais nova, é uma mulher linda, mas totalmente insegura. Encontra um homem maravilhoso, mas tem medo de se envolver. Claro que se envolve. Ela pode ser insegura, mas não é burra.

Anna domina todos. À guisa de preocupação e cuidado, acaba conseguindo que todos façam e ajam de acordo com o que ela quer. Não faz de propósito - ela é assim mesmo. E só percebe quando reencontra Guido, na quinta do Zio Quinto, o homem por quem foi apaixonada na juventude. Seu primeiro namorado, aquele que lhe deu o primeiro beijo. E - acreditem - o velhinho é um prato cheio e pode entrar na minha lista de velhinhos que eu gostaria de encontrar. Pois ele lhe diz com todas as letras como ela é. E, claro, ela toma um susto. Mas muda.

Mas a quinta... Fica na Itália. Quem me conhece sabe que é um dos meus grandes objetos de desejo. É uma casa de campo confortável, com uma cozinha de sonho, quartos grandes e um vasto jardim. Guido tem um viveiro de plantas. "Você me parece um vaso de manjericão", diz ele. "É daquelas plantas que têm muita energia e transmitem isso. Quando tenho uma planta que está fraca, coloco um vaso de manjericão ao lado, pra dar energia a aquela que está fraquinha. Você é assim." Dá pra resistir? Claro que Anna não resiste. Nenhuma mulher resistiria...

Engraçado é que falam tanto da Itália machista, mas a história é totalmente dominada pelas mulheres. São elas que decidem, são elas que comandam. Até a menina Alessia, do alto dos seus 13 anos, acaba com o namoradinho que queria desde o começo da história. Os homens são, com exceção de Guido, uns bananas, que entram para atrapalhar a vida de todas.

No fim da história, tudo acaba bem. Anna vende o apartamento onde mora em Roma e se muda para a quinta, para ficar perto de Guido e dos sonhos de juventude. Deixa os filhos seguirem seus destinos, deixa que eles tomem as próprias decisões. E tutto va bene, troppo bene.

Ah, como eu queria ter um zio Quinto...

E, sim, antes que me esqueça: Federer ganhou. Agassi jogou muito - ele mesmo reconheceu que nunca jogou tão bem como nesta final -, mas não deu...