agosto 29, 2006

O prédio é quadrado. Imagine um quadrado imenso com um buraco quadrado no meio. Coloque isso em 3D e terá uma visão bem próxima do que é o prédio. Funcional, sim. Muito bom para escritórios – para moradias, não consegui chegar a uma conclusão de como seria a divisão interna.

A ficha técnica no site sampa.art diz que o Edifício Matarazzo tem 16 andares e quase 28 mil metros de área construída. “Encomendada pelo conde Matarazzo ao arquiteto italiano Marello Piacentini em 1938, o prédio é um exemplo significativo da influência que a ideologia fascista exerceu na arquitetura. Linhas sóbrias, altos pilares e uma grande massa quadrangular, lembrando um pouco construções medievais”, diz o site. As janelas, amplas, se abrem para o Viaduto do Chá e para o Anhangabaú. Na parte interna, balcões se abrem para o quadrado interno. Daqui do 6.º andar, o piso parece bem próximo: é que só tem balcões do 4.º ao 10.º andar. O 4.º andar é fechado nessa parte interna. Do 10.º pra cima, só janelas.

Daqui de baixo a gente vê alguma coisa do tal jardim suspenso que existe no último andar, com árvores frutíferas, plantas ornamentais e um pequeno lago com carpas. Pelo que me contaram, se a porta estiver aberta, a gente pode entrar e visitar. Mas isso é raro. Visitação pública deixou de ter há alguns anos. E, pelo que parece, ali pousa o helicóptero do prefeito quando ele vai pra algum canto dessa cidade. O barulho é infernal aqui em baixo, imagino como será para quem trabalha mais pra cima...

Mas o que deixa um tanto furiosa é essa mania de o povo daqui manter as persianas cerradas, tampando o mundo lá fora. Quando está sol, tudo bem, a luz reflete no monitor e não dá pra enxergar o que se está fazendo. Mas hoje está cinzento, chuvoso. E mesmo quando tem sol, no final da tarde acaba a luz, dá pra subir as persianas. Mas as persianas ficam baixadas, como se ver o mundo lá fora fosse uma coisa proibida. Assim, sinais do mundo exterior só aparecem em algumas folhinhas secas que o vento empurra para os terraços, onde se fuma. E, mesmo assim, quando a gente consegue ver antes da faxineira...

Odeio janelas fechadas!!!
Pique, quando chegou em casa, não era Pique. Havia uma dúvida entre Corina e Tiana – branca e preta que era, tinha de ter um nome que lembrasse o Timão.Uma colega no trabalho soube que minha gata (a Tila) tinha caído no mundo na Serra da Cantareira. Contou que havia aparecido uma pequenina no quintal dela, sabe-se lá de onde. Perguntou se eu a queria. Foi mais ou menos como perguntar se macaco quer banana. E lá fomos, Guille e eu, buscar a bichinha.

Já era final de ano e, poucos dias depois de a gatinha chegar em casa, os meninos foram para um acampamento de férias, ainda sem se definir entre Corina ou Tiana. Sozinha em casa com a bichinha, comecei a chamá-la de Pequenina – daí pra Pique foi só uma questão de preguiça. Quando os meninos voltaram, duas semanas depois, ela já era Pique. E assim ficou.

Tinha cara de brava – pelo menos é o que todos diziam. Tinha gente até que dizia ter medo dela. Bobagem. Como uma gatinha pode meter medo em alguém? Mas, como sempre digo, medo é uma coisa subjetiva. Cada um tem o seu e é bom o outro respeitar. Então, pra essas pessoas, Pique tinha cara de brava. Também não vou dizer que não era brava – alguns gatos da casa sentiram isso na pele, com toda a força das unhas dela. Aliás, eu também, quando inventei de levar o Fuji lá pra casa, achando que eles iam se dar bem. Eu é que me dei muito mal: fiquei com o braço marcado por arranhões por um bom tempo porque tentei apartar a briga...

Na verdade, acho que o problema não foi o Fuji (um amarelão mais pra ruivo, grande e lindo), mas a época. Pique não estava no cio – e isso era fundamental pra ela aceitar um macho novo em casa. Quando acertamos a época e o macho, foi a vez um persa preto com queixinho branco, de um casal amigo. Pique foi pra casa deles, passou uma noite e voltou pra casa sem termos a certeza de que tinha cruzado. Tinha. A cria foi uma só: a Nina.

Já nessa época tinha outra gatinha dando sopa pela casa: a Miga. Que era pra ser Mirela, por ser amarela, mas acabou sendo Miga, de amiga. Essa não lembro de onde veio. Só sei que veio e ficou. Era da Ma, mas ficava com todo mundo. Até a hora em que meteu a cabeça no quarto do Guille numa época em que a Pique tinha dado cria. Ela paria dentro do guarda-roupa dele e lá ficava por mais de uma semana, sem sair pra comer ou fazer xixi. Não sei o que houve, mas a Pique saiu de dentro do guarda-roupa feito vaca brava e deu uma corrida monumental atrás da Miga. Daí pra frente, a pobre da Miga não podia mais cruzar o caminho da Pique – se isso acontecesse, era briga na certa. E briga feia.

Chegou uma hora que a Miga teve de ir embora. Mas isso eu conto outra hora....

agosto 28, 2006

O hominho subiu no ônibus bufando. Aparentava ser jovem, embora uma calvície insidiosa lhe desse um ar mais velho. Terno preto, camisa branca, gravata perfeitamente ajustada e uma maleta a tiracolo, daquelas de carregar laptop. Subiu bufando mesmo – e nem estava tão quente assim, embora fosse meio dia e pouco e, portanto, com o sol firme lá no alto.

Nem bem vagou um lugar, ele correu pra sentar. Era o lugar reservado, aquele de encosto amarelo, mas tudo bem, não havia ninguém mais em pé. O lugar podia ser ocupado, sem problemas. Sentou e suspirou. Alívio? Sim, mas também calor. A mão correu para o pescoço pra soltar a gravata, que foi tirada assim, sem cuidado. O colarinho da camisa ficou dobrado para o alto, mas ele nem ligou. Eu liguei: aquele colarinho dobrado para cima me incomodou o caminho todo.

Retirada a gravata – ele a dobrou com cuidado e guardou na maleta -, aberto o botão de cima da camisa, mais um suspiro. Este sim, de alívio mesmo. Mas era pouco. Não demorou e quem saiu foi o paletó. Que também foi dobrado com cuidado e guardado na maleta. Aí, era só dobrar as mangas da camisa pra ficar refrescado.

Pensei (maldosamente) que, nesse ritmo, se ele não descesse logo, ia acabar sem roupa dentro do ônibus. Mas ele parou por aí e desceu no mesmo ponto que eu. Deve ter notado que eu o espiava, porque, quando atravessava a rua, me encarou, sério. O perdi de vista numa esquina da Xavier de Toledo – ainda com o colarinho dobrado pra cima, me incomodando.

Meu lado Monk é mais forte do que eu imaginava...