agosto 28, 2006

O hominho subiu no ônibus bufando. Aparentava ser jovem, embora uma calvície insidiosa lhe desse um ar mais velho. Terno preto, camisa branca, gravata perfeitamente ajustada e uma maleta a tiracolo, daquelas de carregar laptop. Subiu bufando mesmo – e nem estava tão quente assim, embora fosse meio dia e pouco e, portanto, com o sol firme lá no alto.

Nem bem vagou um lugar, ele correu pra sentar. Era o lugar reservado, aquele de encosto amarelo, mas tudo bem, não havia ninguém mais em pé. O lugar podia ser ocupado, sem problemas. Sentou e suspirou. Alívio? Sim, mas também calor. A mão correu para o pescoço pra soltar a gravata, que foi tirada assim, sem cuidado. O colarinho da camisa ficou dobrado para o alto, mas ele nem ligou. Eu liguei: aquele colarinho dobrado para cima me incomodou o caminho todo.

Retirada a gravata – ele a dobrou com cuidado e guardou na maleta -, aberto o botão de cima da camisa, mais um suspiro. Este sim, de alívio mesmo. Mas era pouco. Não demorou e quem saiu foi o paletó. Que também foi dobrado com cuidado e guardado na maleta. Aí, era só dobrar as mangas da camisa pra ficar refrescado.

Pensei (maldosamente) que, nesse ritmo, se ele não descesse logo, ia acabar sem roupa dentro do ônibus. Mas ele parou por aí e desceu no mesmo ponto que eu. Deve ter notado que eu o espiava, porque, quando atravessava a rua, me encarou, sério. O perdi de vista numa esquina da Xavier de Toledo – ainda com o colarinho dobrado pra cima, me incomodando.

Meu lado Monk é mais forte do que eu imaginava...

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