março 27, 2007


O desconhecido está ao lado

Quer se esconder? Venha para São Paulo. Se já estiver em Sampa, mude para o outro lado da cidade e não deixe o novo endereço. Ninguém vai te encontrar. Nessa multidão que é a cidade, só é encontrado quem quer ser encontrado. Se não for procurado por algum crime grave – e tem de ser daqueles bem cabeludos, envolvendo gente realmente graúda – nem precisa trocar de nome. É só ficar quieto, na sua, no seu canto. Ninguém te encontra.

Comecei a pensar nisso ao atravessar a multidão, há alguns dias. Multidão que surge dos prédios todos na hora do almoço, aqui em volta. Tem trechos do shopping que parece extensão da rua Direita ou da Ladeira General Carneiro. A gente fica até zonza. No meio desse povo todo, nenhuma face conhecida. São milhares – e eu não conheço ninguém.

É verdade que eu não conheço todo mundo na cidade. Nem poderia. Mas conheço muita gente, um pouco mais do que as pessoas normais, acho. Um cálculo chutado me diz que uma pessoa normal conhece, ao longo da vida, entre 500 e 700 pessoas. Disse conhecer, não ser amigo – isso é mais raro e só para pessoas especiais. Mas, entre colegas de classe na escola e de trabalho, acho que a estimativa é correta. Claro que tem gente que conhece mais, como tem gente que conhece menos. Mas a média é por aí mesmo.

Me coloco acima dessa média, por dever de ofício principalmente. E porque já gostei muito de puxar prosa com pessoas até em fila de ônibus. Então, não seria de assustar se aparecesse um desses fantasmas do passado no meio da multidão. Já encontrei várias pessoas conhecidas, nas mais diversas situações. Aqui, até agora, nada.

Essa nova localização é totalmente fora do meu eixo normal de circulação. Talvez por isso eu me sinta tão rodeada de estranhos. Por aqui, não conheço nada nem ninguém. Claro que estou começando a conhecer. Tenho andado muito, todos os dias. Os lugares estão deixando de ser estranhos – mas desconfio que nunca serão familiares.

Mas as pessoas... Quer se esconder? É só vir para São Paulo...

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