abril 03, 2006

Primeiro de abril, april fools’ para os de língua inglesa. Passou. Nada aconteceu. Ainda bem. Meu ânimo estava mais para fool do que para april, primeiro ou último. Mas aqui quase ninguém liga mais para a data. O primeiro de abril virou outro dia no calendário brasileiro.

Quando eu era menina, a gente passava dias preparando a mentira que ia pregar no primeiro de abril. Nem sempre dava certo porque todo mundo sabia que o dia da mentira estava por perto e se preparava – pra pregar mentira e receber mentira. Será que é porque as pessoas só mentiam de vez em quando? Bom, eu podia entrar agora com aquele discurso de que naquele tempo as pessoas eram mais ingênuas, menos maliciosas, mais verdadeiras, tal e coisa e loisa. Não vou fazer isso.

Os costumes era outros, isso sim. A época era outra. As pessoas eram diferentes. Nem melhores, nem piores. Diferentes apenas. Não havia tanta TV, as novelas perseguidas vinham pelas ondas do rádio. A Internet era coisa impensável, ficção científica mesmo, daquelas que faziam as pessoas rirem – e olhe que os computadores já existiam, mas eram mastodontes que ocupavam salas inteiras e tinham capacidade de armazenamento igual a qualquer PC chinfrim dos dias de hoje.

Então, não havia tanta informação disponível circulando pelo mundo e enchendo olhos e cabeças. As agências de notícias internacionais mantinham umas poucas máquinas de teletipo nas cidades e havia ocasiões em que a notícia tinha de ser levada às pressas, na corrida mesmo, para as redações dos jornais. A TV se fazia com comerciais e programas ao vivo, o vídeo-tape apareceu bem depois. Transmissão de eventos ao vivo, nem pensar.

Hoje, a notícia da manhã já está ultrapassada à tarde. O jornal diário já é entregue com informações ultrapassadas, atropeladas por meios mais velozes. Mal se tem tempo para apreender uma coisa e já tem um complemento aparecendo. Nem bem se assimila uma novidade, já tem outra atropelando a gente. A vida ficou mais rápida e o slow motion só serve pra algumas coisas.

Dou razão ao poeta:
Amar o perdido deixa confundido este coração.
Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não.
As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão
Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão.
(Memória/Drummond)
Só não sei onde ficarão...

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