julho 23, 2007


Broncas e lembretes

A vida nem sempre segue como a gente gostaria – mas, uma hora, dá tudo certo. Espero. Mas por causa disso andei sumida. Tenho pensado numa série de coisas, o que não dá é tempo pra botar tudo na tela. Ou vontade. Ou as duas coisas.

Desde quando me conheço por gente – e isso já tem algum tempo – calçada é lugar de pedestre. Ocorre que de um tempo pra cá as calçadas vêm sendo tomadas por carros. Tudo bem, tem loja, restaurante, estabelecimento comercial, enfim, que abre espaço na calçada para os clientes estacionarem. Tudo bem, a gente compreende. O que não dá pra entender é porque os motoristas cismam que a calçada também é deles e nem dão bola para os pedestres. Ora, sou pedestre de carteirinha e, pelo tempo que bato perna pela cidade, acho que tenho direito adquirido. Então, exijo que o sujeito que esteja manobrando na calçada me respeite. Se estou passando, não sou eu quem tem de parar, é ele. Nesse caso, a preferência é minha. Ele é o corpo estranho no pedaço. Estou ficando de saco cheio de ter de passar pelo meio-fio porque tem algum folgado ocupando a minha calçada...

E falando em folgado, vou abrir campanha contra os proprietários de cães que não limpam a sujeira dos totós das calçadas. É lei, é obrigação: todo mundo tem de carregar seus saquinhos plásticos e limpar a sujeira dos bichos das calçadas. E tem gente que tem a cara de pau de olhar em volta pra ver se tem alguém olhando. Se tem, limpa. Se não, vai embora na maior caradura!

Nesse período de afastamento, registrei duas mortes e uma viagem. Nenhuma minha. Mas a pobre da filha encarou tudo isso: saiu de um enterro para uma viagem; chegou do aeroporto e encarou outro enterro. Nenhum em Sampa. É, minha filha, a vida reserva umas barras que às vezes não dá pra entender...

Uma dessas mortes foi de uma pessoa muito querida, avô dos meus filhos, alguém que eles queriam muito bem. Sim, ele estava bem velhinho. Mas foi triste ver meus meninos encarando um funeral pela primeira vez na vida. De alguma forma, consegui mantê-los distantes desses rituais tão pesados. Se foi bom, não sei. O que sei é que, agora, eles podem decidir se querem ou não participar dessas coisas. Quando eram menores, eu decidi por eles. Acho que eles não reclamam disso, não...

No meio disso tudo, mais uma vez tive a certeza de que não quero esses rituais todos quando eu me for. Todo mundo já sabe o que eu quero – e espero que respeitem minha decisão, que agora vai até por escrito. Não quero velório noite adentro – quem quiser me chorar, repito mais uma vez, que me chore na cama, que é lugar quentinho e confortável. Acho uma violência passar um noite inteira ao lado de um caixão. Acho maravilhosas aquelas histórias de “beber o morto”, mas isso pode ser feito num bom boteco. E, pelamordedeus, quero ser cremada!

E já que estamos em assuntos soturnos, lembrei de quando ensopei um livro na adolescência. “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcellos, me fez chorar muito quando o personagem, o garoto Zezé, diz ao Portuga, amigo dele, que ia matar alguém. O Portuga começa um discurso contra a violência, mas Zezé o interrompe e explica: gente, a gente mata no coração. Vai deixando de lado, esquecendo, não dando bola. E um dia, ela desaparece e passa a ser só uma lembrança, igual a alguém que se foi. Alguém que era muito querido e que deixou lembranças muito especiais.

Acho que quando li o livro, chorei por pessoas que iria “matar” pela vida afora...

1 comentário:

Márcia disse...

É a tal vida, mamiguda. Dias bons, outros nem tanto e outros piores...
Obrigada por ter escolhido por mim em alguns momentos. Espero poder dar esta educação ao Caleu.
Um beijo gde. Te amo!!