agosto 22, 2002

Aí, de repente, apareceu uma oportunidade de falar de coisas que já tinha vontade de falar, mas não queria deixar fechado numa caixa, feito segredo de Pandora. Não que os efeitos destas revelações tenham o mesmo efeito do conteúdo da caixa de Pandora. Acho que minha mania de grandeza não chega a esse ponto. Bom, nunca se sabe, certo? Mas, como jornalista, a gente nunca escreve pra ninguém. Sempre se espera que alguém leia o que a gente escreve e tire algum proveito disso tudo.

Mas vamos por partes, como diria Jack, aquele velho conhecido nosso. Já disse que sou jornalista e o tema da página já mostrou que não estou mais exatamente na flor da idade. Como redatora - nos velhos tempos, a gente chamava isso de copy desk - o que eu escrevo no jornal tem muito pouco a ver comigo. Aliás, uma amiga muito querida que tem mais ou menos a mesma função, só que em outro jornal, costuma dizer que um dia vai escrever um livro com o título "Ninguém escreve ao copy desk". É verdade. Ninguém nos conhece, ninguém sabe quem somos ou o que fazemos (de vez em quando, nem a gente sabe...) Quando alguém procura por um jornalista numa redação, geralmente sai atrás de um repórter ou do editor. Aquele povinho que rala todos os dias pra acochambrar o texto no espaço disponível sem perder as informações e quebra a cabeça pra arrumar um título no mínimo legível e atraente simplesmente não existe para o mundo em geral. Plínio Marcos costumava falar do povão que berra na geral sem influir no resultado. Pois: nós, redatores, somos mais ou menos isso. Mais ou menos porque, embora briguemos por espaço para as matérias que outros assinam, muitas vezes a assinatura vai num texto que contém as informações do repórter, mas não a forma como ele escreveu. E cá entre nós, muito particularmente, tem gente que recebeu Prêmio Esso com texto de copy desk - e nem agradeceu... Tudo bem, cada um na sua e todos na Difusora, certo? E a gente ganha pra fazer isso... Assim, sem mágoas.

A idéia é escrever de vez em quando, quando a alegria ou a tristeza ou a indignação forem fortes o suficiente pra me colocar na frente do teclado. Sem compromisso de renovar em dia marcado, sem lenço, sem documento, num sol de quase dezembro - apesar de ainda ser agosto de um inverno saarianamente quente.

Não sei se o Pedrão lá de cima tem acesso a Internet, mas, se tiver, é bom que preste atenção para o espirocamento geral do tempo aqui em baixo. É um pedido especial que faço a ele. Nada contra os dias quentes - desde que eles fiquem no espaço de tempo apropriado pra isso. Agora seria tempo de sopa quentinha à noite, vinhos tintos à beira da lareira, fondue, edredons e noites estreladas. Tá, a gente mora em Sampa e aqui as noites dificilmente são estreladas por causa da poluição. Mas este é um assunto pra outra ocasião.

Sem comentários: