setembro 25, 2002

Quem não sabe o que vai fazer quando ganhar na Mega-sena? Acho que todo mundo já se pegou imaginando como vai ser quando botar a mão numa bolada, coisa de uns dez milhões, mais ou menos. Acho que 100% das pessoas que conheço pensam em botar o pé na estrada e sair pelo mundo. Estrada, aqui, bem entendida mais como caminhos aéreos e marítimos do que propriamente de terra. Mesmo porque o mundo fica muito complicado pra ser visto de carro.

Corro o risco de não ser original. Eu também botava o pé no mundo. Mas, antes, deixava iniciado aqui o meu sonho de consumo. Ou melhor, o meu sonho de fazer os outros consumirem. Deixava alguém aqui construindo pra mim um shopping. Não um shopping comum, desses fechados, com abóbodas de vidro e vitrais grandiosos, nem com colunas gregas na entrada (cafona, sim, mas não vamos exagerar, né?).

Sabe o Ghirardelli, de San Francisco? Pois, mais ou menos assim. Aberto, com áreas ajardinadas e bancos em vários níveis. No centro, uma pracinha. Chiquitita, pero cumplidora. Alguns cafés com a filosofia dos cafés de Buenos Aires. Você vai, senta, pede um café ou seja lá o que quiser beber ou comer e fica lá o tempo que quiser, sem nenhum garçon imbecil lhe apresentando a conta e sugerindo que você dê lugar para outras pessoas. Claro, as mesinhas ficariam em alguns patamares estratégicos, debruçados sobre a praça. Uma livraria, aqui seria de bom tom. Afinal, é gostoso ler num lugar assim.

Uma escada ampla, de tijolo aparente e corrimão de ferro, levaria para as lojas. Estas, ficariam meio empilhadas no fundo da praça, todas saindo para um corredor de onde se avista a praça. Lojinhas pequenas, de produtos diferenciados, bonitos. Uma floricultura enfeitaria bem o primeiro andar, com as flores expostas na grade do corredor. Claro, não caberiam muitas lojas. Digamos, umas cinco por andar, em cerca de três andares. Mais do que isso as pernas não aguentam, embora a gente possa pensar num elevador para os sem-fôlego, os de mais idades e os de todas as anteriores.

Como o espaço ficaria aberto 24 horas, seria bom ter serviços de conveniência. Uma pequena padaria, mais uma boulangerie do que as nossas manjadas padarias. Uma lojinha de presentes, com objetos bonitos e originais. Outra de chocolates – poderia até ser uma Kopenhagen, mas eu preferiria mesmo uma Neuhaus. Vai, sem sonhar tão alto, serve uma de chocolates Gramado mesmo. Uma sorveteria, porque em dias de sol e calor – é o que mais temos tido ultimamente – seria o ponto de atração do lugar.

Quem se habilitasse a ter um estabelecimento ali teria de se comprometer a só contratar gente sorridente e bem-humorada. Nem precisa ser bonito – só um sorriso no rosto já deixa a pessoa bonita. E todo mundo trabalharia em turnos de seis horas, porque mais do que isso não há saco ou humor que agüente.

Quanto eu ganharia com isso? Não tenho a menor idéia. Mas eu ganhei na Mega-sena, lembra? Então essa não seria uma grande preocupação. O que eu queria, na verdade, é alguma coisa que não existe aqui em São Paulo. Um lugar gostoso, agradável, aberto, onde se possa ficar à-toa fumando um cigarro sem se preocupar em estar poluindo um ambiente fechado. Onde o tempo passe sem que se perceba. Onde dá pra relaxar lendo, tomando alguma coisa ou simplesmente vendo a fauna local desfilar. Tem de ser 24 horas porque eu sei o desespero que é encontrar um lugar pra ir depois da meia-noite nesta cidade sem ser esses lugares de música terrível bombardeando os ouvidos. Depois da meia-noite, só se for na casa de alguém que não tenha um vizinho chato que vai reclamar se a conversa estiver muito divertida e todo mundo estiver rindo. E olhe que nem toquei no tema da música.

Isso acho que vou dispensar no meu espaço. Quem quiser ter música, que leve a sua num disc-man ou assemelhado. Música de elevador, nem pensar. E gosto musical é subjetivo, não dá pra contentar gregos e troianos. Mas, claro, vai ter loja de CDs. Que pode até alugar disc-man com os CDs preferidos de cada um.

Bom, trata-se de um sonho. E resolvi contar assim porque, de repente, aparece alguém achando a idéia ótima e resolve levar adiante. Porque, na verdade, o lugar não precisa ser meu. Ele só precisa existir. Se é viável, se é lucrativo, isso deixo para os analistas e pentelhos de plantão decidirem. Para mim, seria o lugar.

Tenho outras idéias, ainda. Mas agora vai começar Smallville e eu tenho de correr pra publicar esse texto....

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